Marte: pesquisadores usaram imagens da sonda Mars Reconnaissance Orbiter, que tem estudado a atmosfera e o terreno de Marte desde 2006 (ESO/M. Kornmesser/Reprodução)
Reuters
Publicado em 12 de janeiro de 2018 às 10h04.
Washington - Cientistas usando imagens de uma espaçonave da Nasa detectaram oito locais onde grandes depósitos de gelo perto da superfície de Marte estão expostos em encostas íngremes, que podem servir como uma possível fonte de água para sustentar futuros postos avançados humanos.
Embora cientistas já saibam que cerca de um terço da superfície de Marte contém gelo na parte superficial do solo e que seus polos abrigam grandes depósitos de gelo, a pesquisa publicada na quinta-feira descreve espessas camadas subterrâneas de gelo expostas ao longo de encostas de até 90 metros de altura nas latitudes médias do planeta.
"Foi surpreendente encontrar gelo exposto na superfície nestes lugares. Nas latitudes médias, é normalmente coberto por uma camada de poeira ou regolito", pedaços soltos de pedra no topo de uma camada de uma base rochosa, disse o geólogo pesquisador Colin Dundas, líder do estudo do Centro de Ciências Astrogeológicas do Serviço Geológico dos Estados Unidos, em Flagstaff, no Arizona.
As latitudes são equivalentes na Terra à Escócia ou à ponta da América do Sul.
Os pesquisadores usaram imagens da sonda Mars Reconnaissance Orbiter, que tem estudado a atmosfera e o terreno de Marte desde 2006, incluindo o histórico de aparentes fluxos de água na superfície ou perto dela.
As descobertas indicam que o gelo pode ser mais disponível do que pensado anteriormente para uso como água para apoiar futuras missões humanas ou robóticas de exploração, talvez até mesmo o estabelecimento de uma base permanente em Marte. A água pode ser usada para beber e possivelmente convertida em oxigênio para respirar.
"Humanos precisam de água em qualquer lugar que forem, e isto é muito pesado para carregar com você. Ideias anteriores para extrair água usável para humanos em Marte eram retirá-la da atmosfera muito seca ou destruir rochas que contém água", disse o cientista planetário Shane Byrne, do Laboratório Lunar e Planetário da Universidade do Arizona, e coautor do estudo no jornal Science.
"Aqui nós temos o que pensamos ser quase água gelada enterrada somente abaixo da superfície. Você não vê uma solução de alta tecnologia", acrescentou Byrne. "Você vai com um balde e uma pá e coleta o quanto de água você precisar. Eu acho que é um tipo de mudança significativa. Também é muito mais perto de locais onde humanos irão provavelmente desembarcar, ao contrário das calotas polares, que são muito inóspitas".
Os depósitos foram encontrados em sete formações geológicas chamadas escarpas, com inclinações de até 55 graus, no hemisfério sul, e uma no hemisfério norte.
"Nossa interpretação é que isto é neve consolidada depositada geologicamente nos tempos recentes", disse Dundas.