Ciência

Debate sobre necessidade de vacinar crianças intriga cientistas

Argumento é que imunizar crianças é menos urgente, visto que os casos de covid nesse grupo tendem a ser muito menos graves

Debate sobre imunização de crianças passa por entender implicações da doença em diferentes faixas etárias (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Debate sobre imunização de crianças passa por entender implicações da doença em diferentes faixas etárias (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

TL

Thiago Lavado

Publicado em 15 de março de 2021 às 15h46.

Última atualização em 15 de março de 2021 às 16h21.

Crianças têm sido menos afetadas que adultos na pandemia do coronavírus, fato que torna o desenvolvimento de vacinas para os mais jovens particularmente atípico para a ciência médica.

Historicamente, vacinas pediátricas têm se concentrado em doenças infantis fatais, mas a pandemia trouxe um novo fator. Embora o coronavírus tenha sido mortal entre adultos mais velhos, os casos são mais leves entre os mais jovens, com número de mortes relativamente mínimo.

Isso gerou um debate entre cientistas sobre a necessidade de que crianças sejam imunizadas. Alguns dizem que imunizar crianças é menos urgente, visto que os casos de covid nesse grupo tendem a ser muito menos graves. No mundo todo, a distribuição de vacinas tem priorizado idosos e outras pessoas em risco por questões de saúde ou ocupação.

“As vacinas para poliomielite, difteria e meningite foram todas voltadas para eliminar as doenças mais perigosas em crianças”, disse Michael Hefferon, professor assistente do departamento de pediatria da Queen’s University em Ontário. “Agora temos quase o oposto. É uma doença de adultos e, quanto mais você envelhece, mais sinistro se torna. Portanto, as crianças são menos relevantes.”

Quase 3,2 milhões de crianças testaram positivo para covid-19 em 49 estados dos Estados Unidos que relatam casos por idade, de acordo com relatório de 4 de março da Academia Americana de Pediatria. Mas enquanto mais de meio milhão de mortes relacionadas à covid foram registradas nos Estados Unidos, cerca de 250 crianças morreram nos 43 estados que rastreiam a mortalidade por idade.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pressiona pelo retorno de todas as classes do jardim de infância até a 8ª série, e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos dizem que mesmo professores não precisam ser vacinados se certas regras forem seguidas. Um estudo publicado na revista Pediatrics neste mês revelou que apenas 0,4% das 234.132 pessoas testadas nas escolas da cidade de Nova York de outubro a dezembro deu positivo.

A questão não deveria ser apenas: você pode imunizar crianças com segurança e eficácia, mas também “por que você está fazendo isso”, disse Hefferon, segundo o qual alguns reguladores podem questionar a necessidade do uso emergencial. “Se você presumir que a vovó e o vovô vão ser vacinados em massa de acordo com os planos atuais, por que vacinar crianças? É uma espécie de dilema moral a ser considerado.”

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