Aumento alarmante do consumo de melatonina por crianças levanta preocupações sobre os riscos à saúde e a necessidade de orientação médica adequada (Tetra Images/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 8 de junho de 2023 às 10h47.
A melatonina é uma substância amplamente vendida em farmácias e até pela internet. Em formato de ursinho, bala de goma, comprimidos e gotas, ela tem o intuito de ajudar a estimular o sono. No entanto, estudos têm revelado um aumento no uso excessivo do suplemento por crianças, o que tem preocupado os órgãos de saúde.
Para se ter uma ideia, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, revelou que o consumo pediátrico de melatonina aumentou 530% entre 2012 e 2021. Outro estudo, de 2022, realizado pelo Hospital Infantil de Michigan (EUA), indicou um aumento de 530% na ingestão excessiva acidental de melatonina por crianças, nos últimos 10 anos.
Por conta disso, ainda em 2022, a Academia Americana de Medicina do Sono (AASM) emitiu um comunicado com novas recomendações sobre o uso de melatonina em crianças. Entre as recomendações, está evitar a administração sem orientação médica do suplemento.
A Dra. Ana Jannuzzi, com pós-graduação em Sono na Infância e Adolescência, explica que a melatonina é um hormônio produzido pela glândula pineal, que fica localizada em uma região mais profunda do cérebro.
O hormônio é liberado na corrente sanguínea e regula os ciclos de sono e vigília, que também são conhecidos como ciclos circadianos, responsáveis por ajustar o funcionamento do corpo para o dia e para a noite. A melatonina é produzida durante a noite, mas a produção começa por volta das 17 horas, e seu pico ocorre de madrugada, mais ou menos às 3 horas da manhã.
Além disso, ela ressalta que existem evidências de que algumas crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem apresentar níveis mais baixos de melatonina, por conta de deficiência na conversão da enzima N-acetil-serotonina em melatonina. Por isso, com acompanhamento médico, podem apresentar benefício ao fazer uso exógeno da substância.
Para a médica com pós-graduação em Pediatria Dra. Ana Jannuzzi, os pais devem estar em alerta, caso tenham a suplementação em casa. E aponta que, na maior parte dos casos, não há necessidade do uso em crianças. “[…] São pontuais os casos em que é necessária a suplementação com melatonina em crianças, uma vez que estamos falando de uma substância que é naturalmente produzida em todos nós”, declara a especialista.
A pediatra também explica o que dizem os estudos quanto às doses do medicamento: “Nos Estados Unidos, onde o uso da melatonina é mais difundido, o próprio Centro Nacional de Saúde Complementar e Integrativa, um órgão que é ligado ao Instituto Nacional de Saúde, diz que o medicamento parece ser seguro para a maioria das crianças, se usado a curto prazo, mas admite que existem incertezas nas doses, administração, efeitos a longo prazo e se os supostos benefícios superam os riscos”, diz a especialista.
Conforme a Dra. Ana Jannuzzi, a maioria das crianças não precisa usar melatonina. “Se os pequenos estão com dificuldades para dormir, devem ser investigados alguns aspectos, em especial se está sendo feito um ajuste de ambiente e de horários para o sono das crianças […]”, diz a profissional.
A médica ainda esclarece que alguns hábitos devem ser adotados para que a melatonina seja produzida corretamente, como evitar a utilização de luz antes de dormir, já que o hormônio é desencadeado pela escuridão.
“Por isso, não é recomendado o uso de celulares, tablets e outros eletrônicos a partir das 18 horas, porque a luz branca e azul emitida por esses aparelhos causa uma ruptura na produção de melatonina e, consequentemente, isso vai prejudicar o sono. Para saber se haverá ou não necessidade de suplementação de melatonina, as famílias devem procurar orientação médica adequada”, finaliza a especialista.