Ciência

Quais vacinas protegem contra a Ômicron e quantas doses devem ser tomadas?

Pesquisas recentes mostram que reforço pode ser eficaz contra a nova variante do covid. Veja o que se sabe

A vacinação contra a Covid-19 começou no dia 19 de janeiro. (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

A vacinação contra a Covid-19 começou no dia 19 de janeiro. (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

AO

Agência O Globo

Publicado em 23 de dezembro de 2021 às 16h16.

Última atualização em 23 de dezembro de 2021 às 16h29.

Com o avanço da Ômicron pelo mundo, pesquisadores na área da saúde têm concentrado os esforços em avaliar a melhor forma de proteção contra a nova variante do coronavírus. Os estudos que avaliaram as diferentes doses de reforço da vacina (incluindo combinações entre as fabricantes) mostraram que todas apresentaram maior eficácia para a prevenção do que o uso de apenas duas doses. Mas em relação às variantes da doença, especialmente a Ômicron, o que se sabe até agora?

O projeto britânico CoV-Boost, um coletivo de pesquisadores, mostrou em estudo publicado na revista médica Lancet que, além do vírus original das amostras chinesas de Wuhan, o soro dos pacientes com dose de reforço foi testado contra as variantes Beta (descoberta na África do Sul) e Delta (descoberta na Índia). A linhagem específica de vírus porém, não afetou muito o resultado das doses de reforço.

  • Quer saber tudo sobre o desenvolvimento e eficácia de vacinas contra a covid-19? Assine a EXAME e fique por dentro.

Contudo, a proteção das vacinas oferecidas é um pouco menor contra a Ômicron em comparação com versões anteriores da Covid, mas a dose complementar ainda deve manter muitas pessoas fora do hospital.

Pesquisadores do Reino Unido analisaram o provável impacto que uma dose de reforço da vacina contra a Covid-19 terá na Ômicron, e dizem que ela pode fornecer cerca de 85% de proteção contra casos graves da doença.

Veja, abaixo, os estudos mais recentes sobre a variante.

AstraZeneca

Testes clínicos realizados pela Universidade Oxford, no Reino Unido, divulgados nesta quinta-feira, mostraram que a terceira dose da vacina AstraZeneca contra a Covid-19 aumentou significativamente a resposta imunológica à variante Ômicron em comparação com resultados de apenas duas doses.

Foi concluído que duas doses das vacinas contra Covid-19 de Oxford-AstraZeneca e da Pfizer-BioNTech induzem poucos anticorpos neutralizantes contra a Ômicron. A dose extra aumenta significativamente as concentrações de anticorpos.

Pfizer

As farmacêuticas Pfizer e BioNTech declararam no dia 7 de dezembro que duas doses da vacina podem não ser suficientes para proteger contra a infecção com a variante Ômicron, mas que três doses são capazes de neutralizar a nova cepa.

De acordo com os dados preliminares das empresas, uma terceira dose fornece um nível semelhante de anticorpos neutralizantes para a Ômicron ao observado após duas doses contra a cepa original ou as variantes anteriores.

Antes do surgimento da nova cepa, pesquisas apontaram que o imunizante foi capaz de reduzir o risco de internações em mais de 90%. A eficácia contra infecções em pessoas totalmente vacinadas ficou em torno de 33%.

Já um estudo da Discovery Health, em parceria com o Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul (SAMRC, na sigla em inglês), divulgado no dia 14 de dezembro, apontou que duas doses da vacina Pfizer contra a Covid-19 tiveram 70% de eficácia contra hospitalizações em meio ao aumento de casos da variante Ômicron da África do Sul. A pesquisa não analisou os efeitos da dose de reforço.

Coronavac

Um estudo realizado em Hong Kong, também divulgado nesta quinta, indicou que três doses da vacina CoronaVac contra a Covid-19 não produzem níveis suficientes de anticorpos para combater a variante Ômicron.

No entanto, a análise revelou que a dose de reforço da Pfizer-BioNTech forneceu "níveis protetores" de anticorpos contra a Ômicron para quem tinha completado o esquema com a CoronaVac. Segundo os pesquisadores, três doses da Pfizer também são suficientes para atingir a proteção.

A pesquisa mais recente foi conduzida por pesquisadores da Universidade de Hong Kong e da Universidade Chinesa de Hong Kong, e financiado pelo Fundo de Pesquisa Médica e de Saúde e pelo Governo de Hong Kong.

Contudo, outro estudo conduzido na China, liderado pelo cientista Xiangxi Wang, pesquisador do Laboratório de Infecção e Imunidade do Instituto de Biofísica da Academia Chinesa de Ciências, analisou mais de 500 unidades de anticorpos neutralizantes obtidos após a aplicação da terceira dose da Coronavac e concluiu que o reforço produz anticorpos capazes de reconhecer a variante Ômicron.

— Cerca de um terço dos anticorpos apresentaram grande afinidade de ligação com a proteína Spike das cepas de preocupação, incluindo a Ômicron, que tem mais de 30 mutações — afirmou Wang em um comunicado do Instituto Butantan.

Janssen

Os estudos da farmacêutica Janssen sobre a eficácia das vacinas contra a Ômicron ainda estão em andamento. A empresa informou que está fazendo análises em parceria com grupos de pesquisa da África do Sul, com amostras de soro de participantes obtidas em ensaios, sobre a dose de reforço.

Além disso, a Janssen informou que pretende buscar uma vacina específica para a Ômicron, que será desenvolvida, caso seja necessário.

Moderna

A Moderna, farmacêutica americana que desenvolveu uma das vacinas contra a Covid-19 atualmente em uso nos Estados Unidos, mas não no Brasil, afirmou na segunda-feira que o imunizante
aumentou a proteção contra a variante Ômicron do coronavírus, segundo testes clínicos realizados pela companhia. A dose de reforço da vacina pode aumentar anticorpos contra Ômicron em 83 vezes.

A farmacêutica deve desenvolver uma vacina específica para a variante Ômicron, e espera avançar em testes clínicos no início de 2022.

Intercambialidade de vacinas

A análise feita em Hong Kong revelou que a dose de reforço da Pfizer-BioNTech forneceu "níveis protetores" de anticorpos contra a Ômicron para quem tinha completado o esquema com a CoronaVac. Ou seja, quem está imunizado pela CoronaVac terá imunidade contra a Ômicron se tomar a dose de reforço da Pfizer, mas não apresentará a mesma resposta imunológica sem nenhum reforço ou com a terceira dose da mesma fabricante.

A cidade do Rio privilegiará a "mistura de vacinas", esquema conhecido por especialistas como vacinação heteróloga, na aplicação da terceira dose do imunizante contra a Covid-19. A medida visa a promover uma maior resposta imunológica do organismo, como sugerem estudos internacionais.

Ainda há poucas informações sobre a intercambialidade de vacinas em relação à Ômicron, mas em relação à forma original do vírus, ela tem se apresentado como uma alternativa positiva.

Conforme publicação da Universidade Oxford na revista Lancet, a combinação de uma dose de vacina anticovid da AstraZeneca ou da Pfizer com a 2ª dose do imunizante da Moderna ou da Novavax produz maior resposta imune do que se a 2ª dose for do mesmo imunizante para a forma original da Covid-19.

A proposta de vacinação heteróloga é promissora e vem sendo adotada como estratégia em países como o Canadá e alguns países europeus, como a Espanha. Pesquisadores concordam que a "mistura" de vacinas pode apresentar efeito positivo sinérgico na resposta imune, com reforço da resposta de células T de memória.

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusVacinas

Mais de Ciência

Inovação da USP pode substituir o cacau em chocolate e reduzir impactos ambientais

Anticoncepcional masculino pode chegar ao mercado até 2028 após testes promissores

Sonda soviética, lançada em 1972, deve cair na Terra em maio após 53 anos em órbita

Maior telescópio solar do mundo revela imagem inédita e ultradetalhada do Sol; veja foto