China enfrenta pior surto de covid-19 desde março de 2020 (Tyrone Siu/Reuters)
Laura Pancini
Publicado em 14 de março de 2022 às 14h51.
Última atualização em 14 de março de 2022 às 15h04.
Nesta última semana, a China vem registrando um aumento significativo no número de infectados pelo coronavírus. Somente no domingo, 13, um total de 3.939 casos foram confirmados — um recorde para o país, que nunca teve um registro tão alto em todos os dois anos de pandemia.
Agora, algumas cidades do país entram em lockdown como medida para conter o surto. A maior delas até o momento é Shenzhen, com 17,5 milhões de habitantes, enquanto Xangai vem fechando bairro por bairro e realizando testagens em massa. O governo chinês também disponibilizou autotestes para a população.
A China adota a política de “covid zero” desde o início da pandemia: isolamento social e testagens em massa em regiões com surtos da doença já viraram rotina para o povo chinês, mas vem gerando dúvidas sobre sua eficácia no longo prazo. Isso porque a população de países que não seguiram medidas tão rigorosas hoje aparentam estar mais imunizadas, tanto pelas vacinas quanto pela proteção natural após ter tido contato com o vírus.
Como a política de covid zero impediu que a população chinesa tivesse contato com a covid, a proteção natural pode ser menor. Porém, vale ressaltar que a China teve poucas mortes por conta da doença: foram 4,5 mil mortes para 116 mil casos registrados desde o início da pandemia. Para comparação, o Brasil tem quase 30 milhões de casos e mais de 600 mil mortes.
Além disso, com diversos países aceitando que “teremos de aprender a conviver com a covid” e passando a tratar a doença como uma endemia, a ideia da “covid zero” acaba soando menos realista com o passar do tempo.
Zhang Yan, uma autoridade de saúde da província de Jilin, que também entrou em lockdown, recentemente criticou as decisões do país: "Os mecanismos de resposta de emergência em algumas áreas não são robustos o suficiente, não há compreensão suficiente das características da variante ômicron e houve decisões equivocadas”.
Em entrevista à AFP, um morador de Shenzhen disse: “É a pior quarentena desde 2020. Uma amiga acordou de manhã e descobriu que seu prédio havia sido isolado durante a noite sem aviso prévio. Seu chefe teve de enviar um laptop para ela.”
Tudo indica que a variante ômicron é a responsável pelo aumento no número de casos, especificamente a BA-2, sua subvariante. A cepa que causou uma nova onda de coronavírus pelo mundo no início de 2022 é mais transmissível e mais resistente à primeira leva de vacinas, mas novas versões voltadas para a ômicron serão distribuídas em breve por farmacêuticas como a Pfizer.
A agência de notícias Reuters afirma que mais de 30% dos casos de 2022 foram encontrados na província de Jilin, e que a região está lutando para conter a rápida disseminação da subvariante da ômicron. Um especialista em doenças infecciosas afiliado à Universidade de Xangai, Zhang Wenhong, também afirma que grande parte do surto é devido à linhagem BA.2.
Por enquanto, o governo chinês indicou que continuará mantendo sua estratégia de covid zero. Wenhong alerta que os números estão nos estágios iniciais e indicam um possível “aumento exponencial” nas próximas semanas.
“Se nosso país se abrir rapidamente agora, causará um grande número de infecções nas pessoas em um curto período de tempo", disse o especialista. “Não importa quão baixa seja a taxa de mortalidade, ainda causará um choque de curto prazo na vida social, causando danos irreparáveis às famílias e à sociedade”.