A farmacêutica AstraZeneca produziu vacinas em formato de spray nasal ainda durante o surto da gripe suína, em 2009 (Joe Raedle / Equipe/Getty Images)
Laura Pancini
Publicado em 8 de junho de 2021 às 10h49.
Em colaboração com a empresa de biotecnologia IGMBiosciences, cientistas norte-americanos desenvolveram um anticorpo híbrido contra coronavírus, que pode ser aplicado através de spray nasal para prevenir e tratar a doença.
A equipe do Centro de Ciências e Saúde da Universidade do Texas afirma que reduziu drasticamente a quantidade de SARS-CoV-2 nos pulmões de camundongos infectados em testes.
Apesar de que tratamentos com anticorpos vêm sendo testados desde os primeiros dias da pandemia — e vários já estão na fase final de testes clínicos ou aprovados para uso emergencial —, tal tipo de medicamento não é muito popular entre médicos, de acordo com Zhigiang An, pesquisador do estudo.
Isso acontece porque os disponíveis até então são administrados por infusões intravenosas, em vez de diretamente pelo trato respiratório, e precisam de altas doses para ser eficaz. Outro desafio são as variantes do coronavírus, que podem ser resistentes a alguns anticorpos.
Portanto, An e seus colegas desenvolveram um anticorpo que pudesse ser administrado pelo nariz. Eles analisaram diversos anticorpos e focaram nos que eram capazes de reconhecer o spike, componente do SARS-CoV-2 que o vírus usa para se agarrar e entrar nas células.
Entre os anticorpos promissores estavam os IgG, que são "relativamente lentos para aparecer após uma infecção, mas são feitos sob medida para o patógeno invasor", de acordo com o jornal científico Nature, que publicou o estudo.
Para criar o anticorpo híbrido, a equipe costurou fragmentos de IgG, direcionados ao vírus da covid-19, em anticorpos IgM, que são os primeiros a responder a uma ampla gama de infecções.
No final, os IgMs modificados tiveram um efeito de neutralização do vírus (e mais de 20 variantes) muito mais forte do que os IgGs sozinhos.
Quando injetado no nariz de camundongos seis horas antes ou depois da infecção, os IgMs modificados "reduziram drasticamente" a quantidade de vírus nos pulmões dos animais até dois dias após a infecção, relata a equipe.
De acordo com Guy Gorochov, imunologista da Universidade Sorbonne em Paris, o spray nasal com anticorpos é um “grande feito da engenharia”, mas ainda tem questões em aberto, como por quanto tempo os anticorpos permanecerão em humanos.
Já An acredita que os anticorpos funcionam como uma espécie de máscara química, que pode ser usada por qualquer pessoa exposta ao vírus e também como uma forma de prevenção para quem ainda não está totalmente protegido por vacinas, por exemplo.
"Como as moléculas de IgM são relativamente estáveis, pode ser viável formulá-las em um spray nasal a ser comprado em uma farmácia e guardado para uso de emergência", comenta An.
A IGMBiosciences irá testar o anticorpo híbrido em ensaios clínicos.