Ciência

Os riscos da dexametasona, remédio que pode salvar contra covid-19

Corticoide é primeiro remédio com eficácia comprovada para pacientes em estado grave. Mas seu uso indiscriminado pode ampliar a pandemia do coronavírus

Covid-19: dexametasona apresentou bons resultados no tratamento de pacientes em estado grave (Radoslav Zilinsky/Getty Images)

Covid-19: dexametasona apresentou bons resultados no tratamento de pacientes em estado grave (Radoslav Zilinsky/Getty Images)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 17 de junho de 2020 às 08h03.

Última atualização em 17 de junho de 2020 às 08h05.

Após a euforia, os cuidados. Ontem, a Universidade Oxford, no Reino Unido, anunciou um importante avanço no tratamento contra o novo coronavírus. A dexametasona, um anti-inflamatório corticosteroide utilizado por pacientes de asma e rinite e também por alpinistas no combate aos efeitos da falta de oxigênio em altas altitudes mostrou bons resultados no tratamento de pacientes de covid-19 em estado grave.

Segundo os especialistas, o tratamento com esse medicamento reduziu em até um terço o risco de morte dos pacientes entubados usando respiradores mecânicos; e em um quinto para pessoas que estavam recebendo oxigênio suplementar por causa do coronavírus.

A dexametasona, segundo o estudo, pode parar o colapso da imunidade dos pacientes graves -- ou seja, reduz o tamanho da resposta dos anticorpos ao novo vírus, uma das causas de morte identificadas. O quadro inflamatório que a doença provoca pode levar a lesões pulmonares, cardíacas, neurológicas e renais. Peter Horby, um dos principais autores do estudo divulgado ontem, defendeu que o uso do remédio deveria se tornar padrão nos pacientes que necessitam de tratamento com oxigênio.

A dexometasona tem ainda a vantagem de ser barata -- no Reino Unido, o tratamento custa 5,40 libras -- e facilmente encontrada em farmácias. O problema: o remédio, se usado de forma desmedida em pacientes que não estão em estado grave, pode agravar a doença, e a pandemia.

O alerta vem de médicos brasileiros que conhecem bem o medicamento no combate à covid-19. Ele já vem sendo utilizado no Brasil em pacientes graves num consórcio dos hospitais Albert Einstein, Beneficência Portuguesa, HCor, Moinhos de Ventos, Oswaldo Cruz e Sírio Libanês.

O médico Burno Tomazini, pesquisador do Sírio-Libanês, disse à GloboNews que os resultados de Oxford comprovam que os efeitos benéficos são maiores que os colaterais em pacientes graves. Mas alerta que, para pacientes que não estão usando oxigênio, o uso não é recomendado.

A dexometasona, diz Tomazini, é um anti-inflamatório super potente que pode aumentar concentração de açúcar no sangue, hipertensão e até atrapalhar o combate à doença. Isso porque o corticóide tem o papel justamente de segurar a repostas do organismo, o que é benéfico em casos graves. Em casos iniciais, porém, o uso da dexametasona pode ampliar a replicação viral, piorando não só a condição do paciente, como contribuindo para ampliar a pandemia.

Gonzalo Vecina, médico sanitarista e professor da USP, afirma, em coluna publicada no Estadão nesta quarta-feira, afirma que Oxford não anunciou a cura da covid-19, mas sim um medicamento capaz de tratar a doença. "Não corra à farmácia", resume o especialista.

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