Coronavírus: vírus causa grave infecção no corpo (Radoslav Zilinsky/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 7 de abril de 2020 às 13h31.
Última atualização em 7 de abril de 2020 às 13h39.
A descoberta de que o agravamento de infecção pelo coronavírus pode estar relacionada à formação de micrococoágulos nos vasos sanguíneos fez médicos do Hospital Sírio Libanês iniciarem de forma experimental o uso de anticoagulante para o tratamento de pacientes internados com a doença. Em alguns casos, já foi observada melhora.
O teste foi iniciado há cerca de três semanas no hospital paulistano quando a pneumologista Elnara Marcia Negri, médica do Sírio e professora livre docente de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), soube de achados de colegas que estavam examinando os corpos de pacientes que morreram vítimas da infecção.
A partir de necropsias feitas nos cadáveres em São Paulo, patologistas encontraram a presença de pequenos coágulos nos vasos sanguíneos de diversas partes do corpo das vítimas.
"Temos de fazer uma análise rápida, mas examinamos os corpos dos mortos para informar para os clínicos que estão cuidando dos vivos os mecanismos de ação do vírus", explica o patologista Paulo Saldiva, coordenador do grupo que realiza as autópsias e também professor da FMUSP.
De acordo com os especialistas, essa reação de coagulação está associada à uma resposta inflamatória exagerada do organismo quando o vírus ataca as células. "É uma tempestade inflamatória e isso leva a pequenas coagulações nos vasinhos dos órgãos. Com esses microcoágulos, a circulação de sangue e a oxigenação dos órgãos essenciais vai sendo interrompida, o que pode levar à morte", explica Elnara.
Com a informação, a médica obteve a autorização do Hospital Sírio-Libanês para começar a administrar doses controladas do anticoagulante heparina em pacientes internados.
"O pulo do gato é tentar iniciar o tratamento antes de o paciente ir para a intubação porque os coágulos começam a se formar antes mesmo dele ficar com um quadro de insuficiência respiratória grave. Eles começam quando o paciente já está precisando de oxigênio, mas não necessariamente de intubação", explica.
De acordo com a pneumologista, 30 pacientes já fizeram uso do anticoagulante. Pelos resultados observados até agora, que a médica faz questão de frisar que são preliminares, dois grupos de pacientes podem ser mais beneficiados pelo uso do remédio: os internados que já têm baixa na oxigenação, mas que ainda não foram para a intubação, e os que já estão em ventilação mecânica.
"No primeiro caso, a expectativa é de que o tratamento evite que eles evoluam para um quadro ainda mais grave e precisem de intubação. No segundo, a tentativa é permitir que eles saiam mais rápido do respirador e diminuir o risco de morte."
Elnara afirma que, com base no que foi observado até agora, está finalizando um protocolo de pesquisa que será submetido à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para que o estudo seja ampliado.