FHC e Lula: modelo econométrico conclui que renda e desemprego definem as eleições (Ricardo Stuckert/PR)
Da Redação
Publicado em 17 de julho de 2012 às 19h07.
São Paulo - Dizer que a economia explica o desempenho de um político nas urnas não é novidade, mas aindam faltam modelos matemáticos mais elaborados que concluam quais elementos têm maior peso na popularidade de um governante.
Com o objetivo de dar uma contribuição a esse debate, a Tendências Consultoria está desenvolvendo um modelo econométrico que tem a renda e o emprego como suas principais variáveis.
Aos olhos leigos, a fórmula é complexa, mas o raciocínio parece ser simples: renda em elevação e desemprego em baixa significam popularidade nas alturas. Portanto, brincar com a inflação pode derrubar a avaliação de um governante, já que os preços altos corroem o poder de compra da população.
Para elaborar o estudo, os analistas da Tendências utilizaram as pesquisas DataFolha no período de março de 1995 a novembro de 2010 (governos FHC e Lula). A taxa de aprovação é a soma das avaliações "ótimo" e "bom" dadas pelos entrevistados.
A primeira constatação é de que a influência das variáveis econômicas sobre a avaliação presidencial é dada gradativamente ao longo do tempo, sem oscilações bruscas.
"Estimamos uma regressão que associa a taxa de aprovação a seus valores passados (aprovt-1 no modelo explicitado abaixo) e aos determinantes econômicos defasados (taxa de desemprego – ut-1 – e da renda real – rendat-4 –), levando em consideração que a aprovação do governo é feita de maneira retrospectiva. Incluímos ainda uma dummy que assume o valor 1 durante o governo Lula e 0 durante o FHC", diz relatório da consultoria assinado por Rafael Cortez e Rafael Bacciotti.
As estimativas encontradas foram as seguintes:
O modelo conclui que o aumento de 1 ponto percentual na taxa de desemprego reduz a aprovação em 1,51 ponto, enquanto que o aumento de 1% na renda eleva a aprovação em 0,42 ponto percentual.
"Isso é uma evidência de que os indivíduos punem os governos devido ao desemprego em um espaço curto de tempo (a melhor defasagem foi de um período), e os aprovam com a sensação do aumento de seu poder de compra em período de tempo mais longo (defasagem de quatro períodos)."
Segue o relatório: "O modelo mostrou que a preservação da renda real e o mercado de trabalho são, de fato, os melhores preditores da avaliação de um presidente. Isto significa que, no curto prazo, apenas um choque, seja na inflação, seja no mercado de trabalho, poderia afetar a avaliação de Dilma."
Em entrevista a EXAME.com, Bacciotti explica que a renda tem um peso um pouco maior que o emprego, pois é muito mais fácil a renda variar 1% do que o desemprego subir ou cair 1 ponto. "Daí a importância de não se brincar com a inflação, que tira poder de compra da população", diz o economista.
Não havendo vínculos ideológicos por parte do eleitor, a decisão dele será racional e com base no seu bolso. Se a avaliação é positiva, há grandes chances de ele optar pela continuidade.
Passada a fase mais aguda de preços altos nos primeiros meses do ano, a tendência segue favorável para a popularidade da presidente Dilma. A Tendências Consultoria projeta que a taxa de desemprego ainda permanecerá em níveis baixos (na média, 6,4% em 2011 ante 6,7% em 2010) e a renda real, embora em desaceleração, possui trajetória positiva.
O modelo ainda está sendo aperfeiçoado e a equipe da Tendências promete novidades em breve. Um fato, no entanto, é certo. A velha frase "É a economia, estúpido", dita por um assessor de Bill Clinton em 1992, em plena eleição presidencial americana, continua valendo e cada vez mais pode ser explicada matematicamente.