Ciência

Com novas recomendações, OMS tenta frear explosão de cesáreas

O objetivo da organização é destacar a importância de a mãe estar no centro das decisões e em descartar intervenções médicas desnecessárias

Gravidez: nas últimas duas décadas aumentou excessivamente o uso de intervenções médicas que antes só eram feitas quando havia risco (iStock/Thinkstock)

Gravidez: nas últimas duas décadas aumentou excessivamente o uso de intervenções médicas que antes só eram feitas quando havia risco (iStock/Thinkstock)

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EFE

Publicado em 15 de fevereiro de 2018 às 13h27.

Genebra - O direito a decidir como controlar a dor durante o parto e a rejeitar intervenções médicas desnecessárias são duas das recomendações que fazem parte das novas diretrizes elaboradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre como administrar o atendimento às grávidas.

A agência da Organização das Nações Unidas (ONU) apresentou nesta quinta-feira uma lista com 56 recomendações baseadas em evidências científicas e reunidas nas novas diretrizes sobre o parto. O objetivo é destacar a importância de a mãe estar no centro das decisões e em descartar intervenções médicas que não sejam necessárias.

"As diretrizes propõem uma abordagem holística ao parto, em que a mãe tenha preeminência", afirmou Olufemi Oladapo, especialista em pesquisa e saúde materna do Departamento de Saúde Reprodutiva da OMS.

Estima-se que anualmente aconteçam 140 milhões de nascimentos no mundo, a grande maioria sem complicações. No entanto, nas últimas duas décadas aumentou excessivamente o uso de intervenções médicas que antes só eram feitas quando havia risco ou algum tipo de complicação, como a administração de oxitocina para ajudar na dilatação ou fazer uma cesárea.

De acordo com a OMS, em muitas ocasiões estas intervenções não só são desnecessárias, como fazem com que a mãe tenha experiência negativa no parto. Calcula-se que um grande número de mulheres saudáveis, com processo dentro da normalidade, receberam algum tipo de intervenção, ainda que o relatório não dê dados concretos.

Por conta disso, o organismo redigiu as regras que enfatizam a importância de um parto não medicalizado, o que inclui a possibilidade de a mãe decidir como quer administrar a própria dor, o que envolve decidir se quer ou não o uso da anestesia epidural e, se desejar, em que momento.

Além disso, as novas diretrizes reconhecem que cada parto é um parto e que não deveriam ser mantidas regras implementadas nos últimos 70 anos. Um exemplo disso é a dilatação do pescoço do útero. Até agora, acreditava-se ser "normal" que ele dilatasse um centímetro por hora. As novas diretrizes estabelecem que estes limites são "irreais" e "inadequados" para determinar se um parto está progredindo mal ou simplesmente é mais lento do que a média.

"Estes regras foram estabelecidas nos anos 50 e temos uma enorme evidência científica que mostra que em muitos casos isso não acontece, porque cada parto é único. De fato, a velocidade com que o útero dilata não tem qualquer importância nas chances de sobrevivência do bebê, sempre e quando existir progresso", defendeu Oladapo.

Ele afirmou que não foi estabelecida outra categoria da velocidade para a dilatação porque não querem "restringir" novamente o parto a uma regra, dado que o que deve mudar na mentalidade de médicos e parteiras é que cada caso é diferente.

Outra intervenção generalizada é a episiotomia, a incisão cirúrgica na vulva feita em certos partos para facilitar a saída do feto.

"É praticamente uma barbaridade e é quase uma rotina, apesar de as suas vantagens serem um completo mito", exclamou Oladapo, esclarecendo que o método só deve ser usado em casos extremos, por conta das múltiplas consequências negativas para a mãe no futuro.

Outra intervenção usada excessivamente é a cesariana. Segundo a organização, o método é aplicado em muitos países de investimentos médio de forma rotineira, por comodidade dos médicos, e pelo fato de, em muitos casos, os especialistas cobrarem muito mais por um parto cirúrgico do que por um natural.

"As diretrizes são destinadas aos médicos e para lembrá-los dos riscos a curto e médio prazos das cesáreas, mas também às mães, para que saibam que têm direito a um parto o mais natural possível e com o seu controle", concluiu Oladapo.

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