CoronaVac: testes são interrompidos no Brasil (Governo do Estado de São Paulo/Divulgação)
Denyse Godoy
Publicado em 9 de novembro de 2020 às 21h43.
Última atualização em 10 de novembro de 2020 às 13h54.
A Anvisa anunciou nesta segunda-feira (9) que vai interromper os testes realizados no país da vacina chinesa contra o coronavírus, a CoronaVac. Em nota, a agência afirma que a ação está relacionada à ocorrência de reações adversas durante os testes, identificadas no dia 29 de outubro --- contudo, o órgão não diz claramente quais foram os efeitos identificados.
A agência lembra que a pesquisa pode ser interrpompida por várias razões: óbito, efeito adverso potencialmente fatal, reações que exigem internação hospitalar, suspeita de transmissão de agente infeccioso por aparelho médico, entre outros motivos.
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Entretanto, segundo Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, "a Anvisa foi comunicada de um óbito não relacionado à vacina, e não de um efeito adverso". "Estranhamos essa decisão da Anvisa. São 10 mil voluntários, podem ocorrer óbitos não relacionados à vacina, como, por exemplo, um atropelamento", disse Covas durante o Jornal da Cultura há pouco.
Em nota, o Instituto Butantan afirmou que "está à disposição da agência reguladora brasileira para prestar todos os esclarecimentos necessários referentes a qualquer evento adverso que os estudos clínicos podem ter apresentado até momento". Uma coletiva de imprensa acontecerá às 11 horas desta terça-feira, 10.
Mais cedo nesta segunda, o instituto anunciou que começou as obras necessárias para a fabricação de cerca de 1 milhão de doses diárias da CoronaVac. A obra deverá ser concluída somente no final do ano que vem. Outras 6 milhões de doses virão prontas da China. 100 milhões de doses devem ser fabricadas anualmente pelo laboratório.
O prazo colocado como ideal pelo governo de São Paulo para a conclusão da última fase de testes era no dia 16 de outubro, mas faltaram mais dados e a aplicação da vacina em mais voluntários. Em uma segunda etapa, em novembro, serão feitos testes em grupos específicos, como idosos, crianças e mulheres grávidas.
Sem apresentar pesquisas publicadas ou uma conclusão de estudos, também no mês passado, o governo afirmou que 35% dos voluntários tiveram efeitos colaterais. E, se até recentemente o governador João Doria (PSDB-SP) falava em uma campanha de vacinação iniciada em 15 de dezembro deste ano, o discurso mudou e nenhuma data é citada. A falta de provas preocupa a comunidade científica brasileira. Agora, com a pausa, as expectativas devem se frustrar ainda mais.
A pausa, comum em testes científicos, não significa que os demais voluntários deixarão de fazer parte da pesquisa, mas sim que a empresa não poderá recrutar novos indivíduos e os demais continuarão a ser monitorados de perto por equipes médicas, a fim de identificar se novos efeitos adversos irão ocorrer.
Segundo a nota divulgada pela Anvisa, "com a interrupção do estudo, nenhum novo voluntário poderá ser vacinado". "A Anvisa reitera que, segundo regulamentos nacionais e internacionais de Boas Práticas Clínicas, os dados sobre voluntários de pesquisas clínicas devem ser mantidos em sigilo, em conformidade com princípios de confidencialidade, dignidade humana e proteção dos participantes", continua a agência reguladora.
Em setembro, uma pausa aconteceu também nos testes da vacina britânica desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a companha anglo-sueca AstraZeneca. À época, um porta-voz da AstraZeneca descreveu a pausa ao site de notícias de saúde StatNews como “uma ação de rotina que deve acontecer sempre que houver uma doença potencialmente inexplicada em um dos testes, enquanto ela é investigada, garantindo a manutenção da integridade dos resultados”.