BRUNO COVAS: prefeito paulistano segue internado para novos exames após diagnóstico de um tumor no trato digestivo / Germano Luders (Germano Luders/Exame)
Lucas Agrela
Publicado em 14 de junho de 2020 às 13h33.
Última atualização em 14 de junho de 2020 às 13h51.
Mesmo tomando uma série de medidas preventivas, o prefeito da cidade de São Paulo Bruno Covas foi contagiado pelo novo coronavírus, causador da doença chamada covid-19. Covas pertence ao grupo de risco porque faz um tratamento de imunoterapia contra um câncer nos gânglios linfáticos.
Apesar de o prefeito de São Paulo ter apresentado um quadro assintomático de covid-19, seu caso requer atenção especial, assim como o de todos os brasileiros infectados pelo novo coronavírus que também passam por tratamento contra um câncer. O desafio de Covas é duplo. Ele terá de lidar com o vírus no foro privado e no âmbito de saúde pública. São Paulo é o estado que registra o maior número de casos de contágio e de mortes causadas pela covid-19.
“Depois de quatro resultados negativos, hoje, infelizmente, testei positivo para a Covid-19, para o coronavírus ”, disse o prefeito nas suas rede sociais, na noite do último sábado. Pelos próximos dez dias, Covas trabalhará de casa.
Para o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da USP e ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o exemplo de Covas mostra porque é preciso tomar medidas de distanciamento social e traz uma importante lição de saúde pública.
“Se todos os casos possíveis da covid-19 ocorressem no espaço de um ano, nós teríamos que internar nesse tempo uma vez e meia mais do que internamos em tempos normais. Daí a importância do isolamento social e do achatamento da curva. Temos que enfrentar a nova tarefa. Mas não podemos deixar de fazer o que deve ser feito em relação a velha agenda, ou seja, os pacientes com outras doenças como cardiovasculares e câncer tem que continuar a ser cuidados. Nesta epidemia, nós nos descuidamos desses doentes. No caso do câncer, já fragilizados com uma enfermidade que produz certa imunossupressão e cujo tratamento é muito agressivo e o torna mais vulnerável a um agente oportunista como este vírus. Os casos de câncer não deveriam ter sido abandonados, teríamos que ter criado condições para dar continuidade a estes tratamentos. É isso seria difícil, pois faltam os materiais de proteção hospitalar para os agentes da atenção primária, onde se concentra a linha de frente, e que está quase paralisada no país inteiro. O atendimento médico parou por falta de equipamentos e de comando”, diz Vecina Neto.
O Brasil já registrou quase 1 milhão de casos de covid-19, entre os quais mais de 40 mil pessoas morreram, segundo os números oficiais do governo federal.
Um dos principais hospitais de referência no tratamento do câncer em São Paulo, o A.C. Camargo Cancer Center, registrou queda de 87% no número de novos diagnósticos de câncer entre abril deste ano e de 2019. Um levantamento feito pelas sociedades brasileiras de patologia e de cirurgia oncológica mostrou que, até meados de maio, cerca de 50.000 brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer. A queda indica que a saúde pública precisa de uma adequação aos tempos de pandemia, ou as pessoas podem morrer não só de covid-19, mas de qualquer outra doença por falta de preparo de hospitais e de atendimento médico.