Cogumelos: a versão alucinógena do alimento afetam diretamente apenas a serotonina (Reprodução/Thinkstock)
Marina Demartini
Publicado em 28 de maio de 2017 às 07h00.
Última atualização em 28 de maio de 2017 às 07h00.
São Paulo – Uma droga legal deveria ser mais segura do que uma ilegal, certo? Não é o que um estudo realizado com quase 120 mil participantes em 50 países mostra. O Global Drug Survey 2017 revelou que consumir cogumelos alucinógenos é mais seguro do que tomar álcool.
Das mais de 12 mil pessoas que relataram ter ingerido cogumelos “mágicos” – aqueles que contém “psilocibina”, substância que provoca alucinações – em 2016, apenas 0,2% afirmaram que precisaram de tratamento médico de emergência.
Já a maconha sintética (3,2%) e o álcool (1,3%) aparecem como segunda e terceira drogas mais perigosas, respectivamente. Vale ressaltar que a cannabis sintética, como o nome sugere, não tem a composição química da cannabis natural. Ela tem substâncias psicoativas que são pulverizadas sobre a planta antes de que ela seja consumida.
A metanfetamina foi considerada a mais perigosa na pesquisa. Entre seus usuários, 4,8% relatam ter precisado de assistência médica após consumir a droga, que causa euforia, aumenta o apetite sexual e diminui a fadiga. Assim como os cogumelos, outra droga alucinógena, o LSD, aparece na lista. Cerca de 1% dos consumidores relataram a necessidade de pedir ajuda médica.
Os mesmos números apresentados para o LSD podem ser vistos entre os usuários de cocaína (1%) e MDMA (1,2%). Assim, as taxas de pedidos de ajuda pós-consumo de LSD, cocaína e o MDMA (também chamado de ecstasy) foram cerca de cinco vezes maiores do que as de cogumelos.
Apesar de ser menos perigoso do que outras drogas, o cogumelo alucinógeno não é inofensivo. Adam Winstock, psiquiatra e fundador do Global Drug Survey, disse ao jornal The Guardian que combinar o uso da droga com álcool aumenta as chances de danos cerebrais. Segundo Winstock, o consumo dos cogumelos pode causar ataques de pânico em algumas pessoas. Ele aconselha que as pessoas que querem usar a droga planejem "sua viagem com cuidado em um lugar seguro".
O Global Drug Survey relata informações importantes sobre a diferença no consumo de drogas entre homens e mulheres. No estudo participaram mais de 36 mil mulheres (32%) e cerca de 78 mil homens (68%) com uma média de idade de 29 anos. A metanfetamina, por exemplo, traz mais problemas de uso para as mulheres. Enquanto 8,2% das voluntárias procuraram ajuda após usar a droga, apenas 3,7% dos homens praticaram a mesma ação.
O contrário acontece no consumo de cannabis sintética. Os homens (4,2%) relataram procurar auxílio emergencial após o uso da droga--2,2% das mulheres foram em busca de tratamento médico. Quanto aos cogumelos, existe equilíbrio. Homens e mulheres procuraram por ajuda na mesma medida (2%).
No caso do MDMA, as mulheres (1,8%) também aparentam procurar mais por ajuda emergencial em comparação com os homens (0,9%). Na pesquisa do ano passado do Global Drug Survey, 0,6% dos homens disseram ter buscado tratamento de emergência após o uso da substância. Das mulheres, 1,2% procuraram atendimento.
De acordo com uma pesquisa publicada em 2007 na revista Neuroscience and Biobehavioral Reviews, as mulheres estão mais suscetíveis a problemas ligados a alteração de humor, inclusive depressão. Quando elas fazem uso do MDMA, essa predisposição é agravada pelo esvaziamento das reservas de triptofano, um aminoácido utilizado na produção de serotonina.
A mesma pesquisa, que analisou 27 artigos produzidos entre 1966 e 2006, revelou as alterações hormonais relacionadas à menstruação também podem afetar o efeito do MDMA. Outros estudos apontam que mulheres prestes a ovular têm mais propensão de ter uma overdose ao consumirem drogas sintéticas, como a cocaína e a anfetamina.
A Global Drug Survey é a maior pesquisa anual de drogas do mundo--só no Brasil foram entrevistadas mais de três mil pessoas. As perguntas feitas para os voluntários cobrem vários pontos relacionados ao consumo de substâncias legais e ilegais, desde o tipo da droga e seus efeitos negativos até o padrão de uso.
Com isso dito, é bom lembrar que os resultados podem não ser completamente precisos, já que as pessoas precisam se lembrar de seu próprio consumo. Além disso, apesar de o estudo ser anônimo, os voluntários precisam ser totalmente honestos sobre o uso de drogas ilegais.
No fim, a pesquisa revela que 99% dos entrevistados consumiram álcool em algum momento de suas vidas. No Brasil, 37% das pessoas relataram que pretendem beber menos no próximo ano. Além disso, do total de pessoas que participaram do estudo, 78% usaram cannabis natural ao menos uma vez na vida – 29% dos brasileiros afirmaram que pretendem diminuir o consumo em 2018.
Enquanto isso, o MDMA, foi consumido por 34% das pessoas – ou seja, é a droga ilegal mais popular depois da maconha, que foi fumada por 78% dos voluntários. A menos usada foi a mefedrona (1,9%), apesar de ser mais barata do que o MDMA.
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