Cogumelos alucinógenos: compostos com potencial médicos, mas pouco estudados por conta de proibições (James MacDonald/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 12 de abril de 2022 às 16h18.
Última atualização em 18 de abril de 2022 às 10h57.
Cogumelos alucinógenos conectam regiões do cérebro que são mais segregadas em pessoas com depressão, abrindo caminho para tratar a doença de forma diferente do que com medicamentos convencionais.
A psilocibina, um composto alucinógeno presente em fungos, ajudou a “abrir” e melhorar a comunicação dentro do cérebro por até três semanas, segundo pesquisadores do Imperial College London. O resultado foi um efeito liberador não observado com o antidepressivo tradicional Lexapro, de acordo com o estudo publicado na revista Nature Medicine.
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Novas abordagens de tratamento são necessárias, uma vez que um em cada três pacientes não alcança uma recuperação completa com os medicamentos de primeira linha existentes. A Organização Mundial da Saúde estima que até 5% dos adultos em todo o mundo sofrem de depressão, dificultando o envolvimento na vida cotidiana.
“Esses resultados são importantes porque, pela primeira vez, descobrimos que a psilocibina funciona de maneira diferente dos antidepressivos convencionais – tornando o cérebro mais flexível e fluido e menos enraizado nos padrões de pensamento negativo associados à depressão”, disse David Nutt, chefe do Imperial Centre of Psychedelic Research e autor sênior do artigo.
A equipe examinou imagens cerebrais de pacientes antes e depois de receberem terapia assistida com psilocibina ou um antidepressivo convencional, a droga conhecida quimicamente como escitalopram. Eles descobriram que o antidepressivo tinha um efeito mais brando e mais lento do que o ingrediente do cogumelo mágico.
Médicos vão precisar determinar qual abordagem é melhor para cada pacientes, disse Nutt. Em alguns anos, as pessoas poderão escolher entre tomar uma pílula todos os dias ou ter uma experiência psicodélica, disse ele.
Os cérebros de pessoas com depressão normalmente têm circuitos que se tornam mais isolados uns dos outros, uma condição que está ligada ao viés cognitivo negativo, padrões de pensamento rígidos e ideias fixas em relação a si mesmo e ao futuro, disse Nutt.
A psilocibina ajudou as áreas do cérebro a se comunicarem melhor umas com as outras, levando os pacientes a experimentar uma “liberação emocional”, otimismo e mais flexibilidade psicológica, segundo o estudo.
As descobertas são um bom presságio para pesquisas sobre outras doenças mentais. A equipe de Nutt está atualmente estudando o uso de psicodélicos para a anorexia e espera obter financiamento para testar a psilocibina como tratamento para vício.