Ciência

Cientistas estão perto de controlar os efeitos da maconha

Um estudo, publicado no periódico Cell, pode ajudar os pesquisadores a criar novos medicamentos à base da droga

Maconha: o uso medicinal da planta pode se tornar mais controlado depois dessa descoberta (EFE)

Maconha: o uso medicinal da planta pode se tornar mais controlado depois dessa descoberta (EFE)

Marina Demartini

Marina Demartini

Publicado em 21 de outubro de 2016 às 11h53.

Última atualização em 21 de outubro de 2016 às 15h47.

São Paulo – A ciência fez uma descoberta que pode mudar a maneira como a maconha é usada para fins medicinais. Pesquisadores asiáticos e americanos estão próximos de desvendar como bloquear os efeitos negativos da substância. Isso porque, pela primeira vez, eles conseguiram analisar a estrutura do receptor no cérebro que interage com a droga.

O receptor, chamado de canabinóide 1 ou CB1, se conecta com o THC – principal substância psicoativa da cannabis – e causa mudanças fisiológicas e psicológicas no organismo. É essa conexão que deixa usuários "chapados" quando usam a substância.

O problema é que esses efeitos são aleatórios, podendo ativar depressão em algumas pessoas e sensação de felicidade em outros indivíduos. Assim, é necessário entender como a estrutura desse receptor funciona para que os pesquisadores saibam ativar e desativar certas sensações causadas pelo uso da droga.

Para analisar um receptor, os pesquisadores precisam tirá-lo de seu ambiente natural a partir do uso de produtos químicos. No entanto, esses mesmos produtos podem destruir a proteína. Foi especialmente difícil estudar o canabinóide 1, pois ele é extremamente instável e pode ser facilmente destruído por essa química.

Desse modo, a equipe precisou desenvolver uma nova técnica para impedir que a estrutura do CB1 se movimentasse. Eles criaram uma molécula que congela o receptor por tempo suficiente para que fosse possível observar a estrutura.

O que surpreendeu os pesquisadores quando viram a estrutura pela primeira vez é a presença de um local onde outras moléculas podem interagir com ela. Esse lugar foi apelidado de sítio ativo. “O que foi interessante aqui é que o sítio ativo tinha um monte de fendas, um monte de diferentes locais dentro dele”, disse Alexandros Makriyannis, coautor do estudo, em entrevista para o The Verge. “Nós não esperávamos que fosse tão complicado.”

Esse emaranhado deve explicar porque a estrutura era tão instável. Segundo Makriyannis, isso também significa que diferentes tipos de moléculas podem ser inseridas no sítio ativo. Com isso, os cientistas podem projetar moléculas e medicamentos específicos que podem aumentar o apetite de uma pessoa com câncer, mas sem causar depressão.

Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou a importação e prescrição de substâncias à base de canabidiol, princípio ativo extraído da maconha, e THC. Ambas estão liberadas para tratamentos médicos em casos específicos, mas ainda estão na lista de proibições da instituição. A decisão, entretanto, demonstra uma boa vontade por parte da agência de regulamentar o uso da planta para fins medicinais.

A descoberta, além de auxiliar na criação de novos remédios, também pode ajudar os cientistas a descobrir porque a maconha sintética é tão perigosa. Essa droga, também chamada de K2 ou Spice, tem efeitos semelhantes aos da erva natural, porém pode causar convulsões e overdose. Ela é, basicamente, uma mistura de produtos químicos com moléculas sintéticas de THC que são pulverizados sobre qualquer tipo de erva seca.

Raymond Stevens, químico da Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA, disse ao The Verge que o próximo passo da pesquisa é entender exatamente como o CB1 pode ser ativado e desativado. A pesquisa foi publicada no renomado periódico científico Cell e teve o apoio do Ministério da Ciência e da Tecnologia da China e do Instituto Nacional de Saúde dos EUA.

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