Pirâmides no Egito: Cientistas descobriram uma enorme cavidade em seu interior (Ricardo Liberato/Wikimedia Commons)
AFP
Publicado em 2 de novembro de 2017 às 13h20.
A pirâmide de Quéops no Egito, uma das sete maravilhas do mundo antigo, escondia há 4.500 anos uma surpresa. Cientistas anunciaram nesta quinta-feira a descoberta de uma enorme cavidade em seu interior que nenhuma teoria havia antecipado.
A cavidade é "tão grande como um avião de 200 passageiros no coração da pirâmide", declarou à AFP Mehdi Tayubi, codiretor do projeto ScanPyramids, responsável pela descoberta.
Uma equipe de cientistas egípcios, franceses, canadenses e japoneses trabalha desde o final de 2015 na pirâmide, utilizando tecnologia de ponta não invasiva, que permite observar através dela para descobrir possíveis espaços ou estruturas internas desconhecidas.
O objetivo é aprender um pouco mais sobre a construção das pirâmides, que sempre foi cercada de mistérios.
O monumento, de 139 metros de altura e 230 de largura, fica no complexo de Gizé, próximo do Cairo, perto da Grande Esfinge e das pirâmides de Quéfren e Miquerinos.
"Há muitas teorias sobre a existência de possíveis câmaras secretas nas pirâmides. Se juntássemos todas, obteríamos um queijo gruyere", brinca Mehdi Tayubi.
"Mas nenhuma delas previa a existência de algo tão grande", completou.
De acordo com o estudo publicado na Nature, o "big void" (grande vazio), como os cientistas denominam a descoberta, mede pelo menos 30 metros de comprimento e tem características similares às da grande galeria, a maior sala conhecida da pirâmide.
A cavidade se encontra a 40 ou 50 metros da câmara da rainha, no centro do monumento.
"O 'grande vazio' está totalmente fechado, nada foi tocado desde a construção da pirâmide. É uma descoberta muito emocionante", disse Kunihiro Morishima, da Universidade de Nagoya no Japão, integrante da missão ScanPyramids.
Para encontrar este "bonito presente", escondido desde o reinado do faraó Quéops, os cientistas recorreram a partículas cósmicas, os chamados múons.
Quando estas partículas elementares, criadas na alta atmosfera por raios cósmicos, entram em contato com a matéria, são freadas até parar.
Os pesquisadores medem portanto a quantidade de múons que recuperam atrás de um objeto sondado. Se comprovam um excedente em algum lugar, significa que os múons atravessaram menos matéria, isto é, um vazio.
"Esta tecnologia não é nova, mas os instrumentos são mais precisos e mais robustos hoje. Podem sobreviver às condições do deserto egípcio", explica Sébastien Procureur, cientista francês que se uniu ao projeto em 2016.
Para evitar polêmicas, a existência da cavidade foi confirmada por três técnicas diferentes de detecção com múons, realizadas pela Universidade de Nagoya, o laboratório de pesquisas japonês Kek e o francês CEA.
O segredo revelado nesta quinta-feira apresenta novas perguntas sobre a pirâmide: Por quê existe esta cavidade? Há algo dentro?
"Não podemos saber se o vazio contém artefatos porque seriam muito pequenos para ser detectados por este tipo de técnica", afirmou Kunihiro Morishima, coautor do estudo.
Os cientistas tampouco têm informações sobre o papel deste vazio. Poderia ser uma "sucessão de câmaras contíguas, um enorme corredor horizontal, uma segunda grande galeria. Há muitas hipóteses possíveis", disse Tayubi.
O que já está claro é que será complicado alcançar o "grande vazio".
"Pensamos em modos de investigação bastante leves, não destrutivos", explicou o codiretor da missão.
"O CNRS (Centro Nacional para a Pesquisa Científica) e o Inria (Instituto Nacional de Pesquisa em Informática e Automatização) se uniram ao nosso trabalho no ano passado para estudar um novo tipo de robô que consiga passar por buracos muito pequenos", concluiu.