Covid-19: exame de sangue pode ajudar a prever reação mortal da doença (Paul Biris/Getty Images)
Rodrigo Loureiro
Publicado em 15 de outubro de 2020 às 11h38.
Última atualização em 15 de outubro de 2020 às 11h41.
Pesquisadores da Universidade de Southampton, no Reino Unido, encontraram uma maneira de identificar pacientes de covid-19 que podem contrair um dos sintomas mais graves da doença, e que pode eventualmente levar à morte. Os cientistas descobriram que é possível prever, através de um exame de sangue, quais pacientes vão desenvolver o que é chamado de “tempestade de citocinas”.
O fenômeno é também conhecido como hipercitocinemia e é descrito como uma reação fisiológica que ocorre quando o sistema imunológico libera uma grande quantidade de citocinas sem o devido controle. As citocinas, que são moléculas sinalizadoras pró-inflamatórias, ajudam o corpo a combater infecções. Porém, quando a liberação é excessiva e descontrolada, há o risco de falência de órgãos.
Liderada pelos professores universitários Tim Wilkinson e Tristan Clark, a pesquisa mostrou que um exame de sangue direcionado para a análise de cinco citocinas em especial pode ajudar a prever quais pacientes correm o risco de desenvolver o sintoma mortal da estimulação excessiva dessas moléculas. Assim, é possível atuar em tratamentos que bloqueiam esta reação fisiológica.
O estudo foi publicado na revista científica Respiratory Research e conta com a análise de exames de sangue de 100 pacientes que testaram positivo para covid-19. Os pacientes foram admitidos no hospital da Universidade de Southampton entre os dias 20 de março e 29 de abril, período que marcou uma das primeiras fases da pandemia do novo coronavírus.
Vale lembrar, ainda, que diversos outros sintomas graves de covid-19 podem estar ligados ao tipo sanguíneo dos pacientes.
Os resultados mostram que níveis elevados de citocinas IL-6, IL-8, TNF e, principalmente, IL-1β e IL-33 no sangue dos pacientes na admissão estão associados com uma chance maior de que o paciente necessite de tratamentos em terapia intensiva, com o uso de ventilação artificial para que os pacientes não piorem suas condições de saúde.
As descobertas mais recentes vão ajudar os médicos não apenas a diagnosticarem de forma mais efetiva pacientes com o covid-19, mas também pessoas que contraíram outros vírus que podem causar essa tempestade de citocinas. Entre eles, destaque para o H5N1, o SARS-CoV-1 e o vírus Epstein-Barr.
Na prática, isso significa poder identificar com mais precisão quais as citocinas estão causando a hiperinflamação em cada paciente de covid-19 para que os médicos tratem cada paciente com tratamentos individuais e mais efetivos.
"Essas descobertas identificaram sinais inflamatórios importantes que ajudarão a orientar o desenvolvimento de estratégias de tratamento para esta nova doença”, afirmou Wilkinson.