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Cientistas descobrem bactéria resistente à radiação que não representa ameaça aos humanos

Antioxidante presente na bactéria poderia ajudar humanos tanto na Terra quanto nas futuras explorações espaciais

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 11 de dezembro de 2024 às 16h40.

Uma bactéria apelidada de "Conan, a Bactéria", devido à sua impressionante resistência a condições extremas, pode suportar doses de radiação 28 mil vezes superiores àquelas que matariam um ser humano.

O segredo da resistência está em um antioxidante formado por um grupo simples de moléculas chamadas metabolitos, e uma recente pesquisa revelou como esses compostos funcionam — uma descoberta que pode revolucionar a proteção à saúde humana, tanto na Terra quanto nas futuras explorações espaciais.

O antioxidante da Deinococcus é composto por manganês, fosfato e um pequeno peptídeo (molécula de aminoácidos). Juntas, essas substâncias formam uma combinação altamente eficaz contra a radiação, superando o efeito do manganês combinado com apenas um dos outros componentes, conforme demonstrado em um estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences.

"Sabemos há muito que os íons de manganês e o fosfato formam um antioxidante poderoso, mas a descoberta da 'mágica' proporcionada pela adição do terceiro componente é uma verdadeira revolução. Este estudo revelou o segredo de por que essa combinação é tão promissora como radioprotetora," afirmou Brian Hoffman, coautor do estudo e professor de química na Northwestern University.

Pesquisas anteriores já haviam mostrado que a Deinococcus radiodurans é a vida mais resistente à radiação, conforme registrado no Guinness World Records. A bactéria é capaz de sobreviver fora da Estação Espacial Internacional por até três anos e resistir a condições como acidez, frio e desidratação.

Em um estudo de 2022, Hoffman e Michaely Daly, professor da Universidade dos Serviços Uniformizados de Ciências da Saúde, demonstraram que se a bactéria existisse em Marte, ela poderia sobreviver por milhões de anos, mesmo em condições extremas de congelamento.

No mais recente estudo, os cientistas utilizaram um antioxidante sintético chamado MDP (melatonin-derived protective), inspirado na Deinococcus radiodurans. Daly, que desenhou esse antioxidante, explicou que ele já foi utilizado em vacinas polivalentes inativadas por radiação, que usam a radiação para desativar patógenos como a clamídia. Os pesquisadores analisaram como os componentes ativos do MDP, incluindo manganês, fosfato e um peptídeo chamado DP1, protegem as células e proteínas da exposição à radiação.

Quando o peptídeo e o fosfato se ligam ao manganês, eles formam um complexo ternário (triplo) altamente eficaz na proteção contra radiação. Esse "molho secreto" é o que torna a combinação tão potente", disse Hoffman, segundo a CNN. Esse complexo de metabolitos do MDP cria uma barreira poderosa contra os danos causados por radiações como os raios gama.

De acordo com Daly, o MDP poderia ser administrado de forma simples e eficaz, até mesmo por via oral, para mitigar os riscos da radiação cósmica durante missões espaciais de longa duração. Em futuras viagens ao espaço profundo, astronautas seriam expostos a elevados níveis de radiação cósmica — partículas energéticas que viajam pelo cosmos. O MDP poderia, portanto, ser a chave para proteger os seres humanos em missões futuras, como as que visam explorar Marte e além.

"O MDP é um radioprotetor simples, barato, não tóxico e altamente eficaz, com grande potencial para proteger os astronautas contra os riscos da radiação no espaço," disse Daly, que também é membro do Comitê de Proteção Planetária das Academias Nacionais.

Além de seu uso no espaço, o antioxidante poderia também ser útil na proteção contra radiações em situações de acidentes na Terra, como os que envolvem materiais radioativos.

Os pesquisadores estão agora curiosos para investigar se esse complexo triplo de antioxidantes encontrado na Deinococcus também existe em células de outros organismos, e se essas moléculas poderiam ser responsáveis pela resistência à radiação em outras formas de vida.

Essa descoberta abre um novo campo de pesquisa que pode beneficiar tanto a medicina quanto a exploração espacial, com o potencial de proteger vidas humanas de uma das maiores ameaças do cosmos: a radiação.

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