(Arquivo pessoal/Divulgação)
Mais do que discurso ou marketing, o que o planeta precisa atualmente é de ações. Iniciativas que promovam, de forma concreta, as mudanças de postura tão necessárias para sua preservação. Esses três brasileiros a seguir são exemplos de quem tem agido – cada um em seu ramo – em prol desse objetivo e, merecidamente, vêm tendo seu trabalho reconhecido mundo afora.
Resolver um grave problema mundial na frente climática: a alta emissão de CO2 por conta dos incêndios florestais e de áreas de plantio. Foi com esse objetivo que Rogério Cavalcante fundou, há cinco anos, a umgrauemeio* (antiga Sintecsys), startup que usa a tecnologia para lidar com a questão de forma inteligente e eficiente.
Como reconhecimento por sua atuação à frente da empresa, da qual é o CEO, ele figurou, em 2020, na prestigiada lista do Meaningful Business 100, que identifica mundialmente líderes empresariais que se destacam por aliar lucro e propósito, contribuindo para alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Com um sistema proprietário de inteligência artificial, a umgrauemeio usa câmeras que giram 360º, 24 horas por dia, para monitorar áreas de grandes extensões, em busca de qualquer sinal de fumaça em um raio de 15 quilômetros. O algoritmo então analisa as imagens em tempo real e dá o alerta, reduzindo o tempo de detecção de 48 horas para apenas 3 minutos.
“Todo incêndio começa podendo ser apagado com um pé, dependendo apenas do tempo que se leva para identificar o foco. Quanto maior for o tempo, maior será o problema. Era então necessário e urgente desenvolver uma solução que permitisse a detecção precoce e automática de focos de incêndio”, diz Cavalcante.
Segundo ele, a empresa tem hoje cerca de 20 clientes, todos triple A. São monitorados mais de 4,5 milhões de hectares no Brasil, sendo 1,5 milhão de área nativa, por meio de 14 salas de controle distribuídas em dez estados. E no horizonte estão os planos de que a iniciativa privada patrocine o serviço para regiões como Pantanal, Amazônia, parques e reservas nacionais.
Além da proteção ao meio ambiente, o software também mensura as reduções das emissões de CO2 por incêndios evitados. “Clientes atestam ganhos impressionantes, como redução de até 90% da área queimada quando comparada aos anos antes da implantação do sistema, com payback de toda solução em poucos meses”, conta.
Formado em direito, Cavalcante sempre buscou dar significado à sua vida profissional por meio do empreendedorismo, nos mais variados setores. E começou cedo: embora tenha 44, já são mais de 30 anos empreendendo.
Nessa nova e bem-sucedida empreitada, ele convida outros empreendedores à reflexão: “Como pode haver lucro com dano ao meio ambiente? Afinal, que lucro é esse? Para quem? Estamos diante de novos tempos e de uma oportunidade incrível de fazermos toda a diferença para o nosso planeta, com lucro, propósito, transparência e de forma sustentável, pois essa é nova forma de valoração econômica de uma atividade empresarial, e não tem mais volta”.
A geógrafa e mestranda em demografia pela Unicamp Karina Berbert Bruno foi uma das vencedoras, entre 430 participantes de 80 países, do concurso internacional Space4Youth.
A premiação é organizada pelo Escritório da ONU para Assuntos Espaciais em parceria com o Conselho Consultivo de Geração Espacial, com o intuito de dar visibilidade a projetos e estudos de jovens que relacionam o espaço e questões climáticas.
Karina venceu com um ensaio que trata do uso de imagens espaciais na mitigação das mudanças do clima no Cerrado, o segundo maior bioma da América do Sul. Ela explica que essas fotos, feitas a partir de sensores e satélites, vão muito além de simples retratos. São um conjunto de informações sobre a região fotografada, com aspectos como relevo, rios, partículas suspensas no ar, temperatura, nível dos oceanos – tudo atualizado em curtos períodos de tempo.
E aí é que está a relevância prática do seu estudo. “Essa atualização constante permite acompanhar regularmente as alterações que ocorrem nesses ecossistemas”, conta Karina. “São ferramentas para orientar ações governamentais efetivas e imediatas no combate ao desmatamento, focos de incêndio, poluição do ar e diversas outras alterações causadas pelo ser humano que comprometam o equilíbrio do planeta, principalmente do clima”, diz.
Segundo a geógrafa, esses registros também são fundamentais para orientar ações de longo prazo na região, como estratégias de preservação e de incentivo à produção agrícola sustentável. E podem ser amplamente usados na ciência e na sociedade civil, permitindo entender cada vez melhor as transformações que estão ocorrendo e como enfrentá-las.
Para Karina, um dos pontos importantes de ter seu trabalho premiado é dar destaque à ciência produzida no Brasil, e por mulheres. Além de chamar a atenção de outros países para o que ocorre em biomas brasileiros fundamentais para a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas no mundo, diretamente relacionados aos efeitos das mudanças climáticas.
“Fiquei realmente muito feliz e honrada. Significa reforçar que a cência e a pesquisa brasileira continuam firmes em defesa do meio ambiente e que mulheres pesquisadoras estão presentes e afirmam seu desempenho."
A ativista climática de 24 anos Amanda da Cruz Costa atua em diversas frentes, em âmbito nacional e global. É jovem embaixadora da ONU, delegada do Brasil no Y20 (o grupo de engajamento da juventude do G20) e faz parte de várias iniciativas, como a Global Shapers Community, programa do Fórum Econômico Mundial de jovens com potencial para transformar suas realidades.
Graduada em relações internacionais, ela é alinhada com a Agenda 2030 e tem como foco mobilizar jovens para construir um mundo mais sustentável, inclusivo e colaborativo. Para isso, usa como principal ferramenta o seu projeto Perifa Sustentável, um perfil no Instagram que busca democratizar o conhecimento sobre clima, meio ambiente e igualdade de direitos na periferia.
A ideia do canal é informar e, especialmente, mostrar que esses assuntos são de todos e para todos, o que nem sempre é fácil. “O maior desafio do projeto é furar a bolha, trazer a quebrada para o centro desse debate. Porque o discurso socioambiental está dentro de um estereótipo de que só as pessoas da elite podem levantar essas questões, têm o conforto necessário para falar dessa temática”, conta Amanda.
O seu objetivo é mudar essa percepção. “Quero engajar a juventude preta periférica para participar das discussões socioambientais e ocupar espaço junto com os tomadores de decisão. Porque é o nosso futuro que está em jogo”, diz.
Para isso, ela carrega um pensamento que guia o seu trabalho e é a grande inspiração que gostaria de passar para os seus seguidores. “Repito isso para mim todos os dias: sou grata pela vida que tenho enquanto construo a vida que sonho. Apesar de o cenário estar bem desafiador, a partir do momento em que a gente se engaja politicamente, articula com diferentes atores e promove ações tangíveis, práticas, conseguimos transformar a nossa realidade. Quero, e estou trabalhando para isso, mobilizando a minha quebrada para isso.”
*O nome faz referência à principal meta ambiental do mundo hoje, de limitar a elevação da temperatura da Terra a 1,5 ºC