Ciência

Astrônomos detectam possíveis sinais de vida em planeta distante

Mais estudos são necessários para determinar se K2-18b, que orbita uma estrela a 120 anos-luz de distância da Terra abriga formas de vida e se pode ser habitado

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 16 de abril de 2025 às 21h27.

Tudo sobreCuriosidades
Saiba mais

A investigação sobre a existência de vida além do planeta Terra tem impulsionado cientistas a desvendar diversos mistérios do universo — desde a detecção de metano em Marte até a presença de fosfina, um tipo de composto químico tóxico, nas nuvens de Vênus.

Até o momento, não há indícios de que a Terra compartilhe o cosmos com outra forma de vida.

Agora, um grupo de cientistas norte-americanos afirma ter encontrado a evidência mais convincente até hoje de vida fora da Terra — não no nosso sistema solar, mas em um planeta gigante chamado K2-18b, que gira em torno de uma estrela localizada a 120 anos-luz de distância. O estudo foi publicado nesta quarta-feira, 16, no Astrophysical Journal.

Uma nova análise da atmosfera desse exoplaneta indica a presença significativa de uma molécula que, no caso da Terra, é produzida exclusivamente por seres vivos, como as algas marinhas.

No entanto, Nikku Madhusudhan, do Instituto de Astronomia da Universidade de Cambridge e um dos autores da pesquisa, ressalta que não há, por enquanto, comprovação de vida em k2-18b. "Não é do interesse de ninguém afirmar prematuramente que detectamos vida", disse o especialista em uma coletiva de imprensa na terça-feira, 15.

O grupo de cientistas também observou que esse exoplaneta é coberto por um oceano quente que tem possibilidade de ter vida como a conhecemos. "É um momento revolucionário. É a primeira vez que a humanidade vê potenciais bioassinaturas em um planeta habitável."

Já os outros pesquisadores acreditam que esse é um primeiro passo para entender o que habita K2-18b. Mas eles relutaram em tirar grandes conclusões. "Não é nada. É apenas uma pista. Mas ainda não podemos concluir que seja habitável", disse Stephen Schmidt, cientista planetário da Universidade Johns Hopkins.

Indícios de vida

Astrônomos canadenses descobriram o K2-18b em 2017 durante observações com telescópios terrestres no Chile.

Esses planetas, também apelidados de subnetunos, são maiores do que os planetas rochosos do nosso sistema solar, mas menores do que Netuno e outros planetas dominados por gás.

Em 2021, o Dr. Madhusudhan e seus colegas propuseram que os subnetunos eram cobertos por oceanos de água quente e envoltos em atmosferas contendo hidrogênio, metano e outros compostos de carbono. Para descrever esses planetas estranhos, eles cunharam um novo termo, "Hiceano", a partir de uma combinação das palavras "hidrogênio" e "oceano".

O lançamento do Telescópio Espacial James Webb em dezembro de 2021 permitiu aos astrônomos observar mais de perto subnetunos e outros planetas distantes. O dispositivo foi capaz de identificar a composição química da atmosfera de planetas distantes por meio da luz que atravessa a pequena estrela vermelha em torno da qual eles orbitam.

Foi assim que a equipe da Universidade de Cambridge detectou sinais que indicam a possível presença de pelo menos uma entre duas moléculas associadas à vida: o sulfeto de dimetila. Na Terra, essas substâncias são produzidas principalmente por bactérias e fitoplâncton dos oceanos.

Quando um exoplaneta passa em frente à sua estrela hospedeira, sua atmosfera (se houver) é iluminada. Seus gases, na verdade, alteram a cor da luz estelar que atinge o telescópio Webb. Ao analisar essas mudanças nos comprimentos de onda, os cientistas podem entender melhor a composição química da atmosfera.

Na Terra, certas formas de algas marinhas produzem o composto, que se espalha pelo ar e contribui para o odor característico do mar. Muito antes do lançamento do telescópio Webb, os pesquisadores se perguntavam se o sulfeto de dimetila poderia servir como um sinal de vida em outros planetas.

No ano passado, Madhusudhan e seus colegas tiveram uma segunda chance de procurar por sulfeto de dimetila. Enquanto K2-18b orbitava em frente à sua estrela, eles usaram um instrumento diferente no telescópio Webb para analisar a luz estelar que passava pela atmosfera do planeta. Desta vez, eles viram um sinal ainda mais forte de sulfeto de dimetila, juntamente com uma molécula semelhante chamada dissulfeto de dimetila.

"É um choque para o sistema. Passamos um tempo enorme apenas tentando driblar o sinal", contou o cientista durante a coletiva.

Eles concluíram que K2-18b pode, de fato, abrigar um enorme suprimento de sulfeto de dimetila em sua atmosfera, milhares de vezes maior do que o nível encontrado na Terra. Isso sugere que os mares desse exoplaneta estão repletos de vida.

Controvérsia sobre o estudo

De acordo com o jornal New York Times, após a divulgação do estudo, outros pesquisadores contestaram as teorias dos cientistas de Cambridge e reforçaram que ainda há muita pesquisa a ser feita. Uma questão ainda a ser resolvida é se K2-18b é de fato um planeta habitável e se, realmente, abriga oceanos, como afirma a equipe de Madhusudhan.

Por outro lado, se houver vida extraterrestre em K2-18b, ou em qualquer outro lugar, sua descoberta pode demorar para ser confirmada. “A menos que vejamos um E.T. acenando para nós, não será uma prova cabal”, disse Christopher Glein, cientista planetário do Instituto de Pesquisa do Sudoeste em San Antonio, Texas, ao jornal norte-americano.

Acompanhe tudo sobre:ExoplanetasPlanetasPlaneta Terra

Mais de Ciência

Charles Darwin revelou que maioria dos gatos brancos podem ser surdos; motivo surpreende

Como os crocodilos sobreviveram a duas extinções em massa

Invertebrado mais pesado do mundo é registrado em vídeo pela primeira vez em seu habitat natural

Qual a fase da Lua de hoje, 16 de abril de 2025?