Satélites: 27 radiotelescópios foram usados para encontrar a localização do Pulso Rápido de Rádio (Bill Saxton, NRAO/AUI/NSF/Divulgação)
Marina Demartini
Publicado em 6 de janeiro de 2017 às 05h55.
Última atualização em 6 de janeiro de 2017 às 05h55.
São Paulo – Cientistas resolveram parte de um grande enigma astronômico. Eles descobriram qual é a origem de um Pulso Rápido de Rádio (Fast Radio Burst, FRB, em inglês): uma galáxia anã situada a três bilhões de anos-luz da Terra.
FRBs são como jatos de alta energia em frequências de rádio que duram milissegundos. Eles foram identificados pela primeira vez em 2007 e, desde então, apenas 18 FRBs foram reportados. Um deles, denominado 121102, chamou a atenção dos astrônomos devido a uma característica peculiar: ele é repetitivo, ou seja, seus raios são constantes e parecem sair sempre do mesmo local.
Com essa informação em mãos, os cientistas colocaram o Karl G. Jansky Very Large Array, uma coleção de 27 radiotelescópios, para funcionar. Após seis meses e 83 horas de observação, eles conseguiram detectar nove pulsos do FRB 121102 e, a partir disso, identificar seu local de origem.
Além de desvendarem a existência de uma fonte de rádio persistente na localidade, os astrônomos também encontraram uma mancha de luz que acabou se transformando em uma pequena galáxia. De acordo com uma análise do espectro de luz dessa galáxia, os cientistas descobriram que ela está a três bilhões de ano-luz de distância da Terra.
“Este resultado impressionante mostra o poder de vários telescópios trabalhando em conjunto – primeiro ao detectar a explosão de rádio e, em seguida, de precisamente localizar e caracterizar a fonte emissora”, disse Phil Puxley, diretor da Fundação Nacional de Ciência, em um comunicado.
Apesar de terem descoberto a localização do FRB, os cientistas ainda não sabem como esse pulso é enviado. Uma teoria sugere que um buraco negro no centro da galáxia está expelindo jatos de partículas à velocidade da luz. Gotas de plasma, um tipo de gás ionizado, estão entrando em contato com os jatos e, consequentemente, os tornando brilhantes.
A segunda suposição -- e mais plausível -- é que os raios estão vindo de uma estrela de nêutrons com um campo magnético extremamente forte, chamada de magnetar. Segundo os astrônomos, esses tipos de estrelas produzem pulsos de rádio brilhantes na Via Láctea, mas nada tão forte quanto a documentada no FRB 121101. Assim, para os cientistas, é possível que resquícios de plasma estão criando um tipo de lupa eletromagnética que amplifica as emissões dos pulsos para que eles cheguem até a Terra.
Mesmo com tantos resultados positivos, os astrônomos são cautelosos. “Precisamos ter em mente que este FRB é o único conhecido a repetir, por isso pode ser fisicamente diferente dos outros”, advertiu Bryan Butler do Observatório Nacional de Rádio e Astronomia, no comunicado.
“Encontrar a galáxia que acolhe este FRB e sua distância é um grande passo, porém ainda temos muito a fazer antes de entendermos o que são essas coisas (pulsos)”, complementou Shami Chatterjee, um dos autores do estudo.
Os resultados da pesquisa foram publicados na revista científica Nature e no periódico Astrophysical Journal Letters. Eles também foram apresentados na reunião da Sociedade Americana de Astronomia no Texas, nos Estados Unidos.