Astecas: após meio milênio, cientistas podem ter descoberto o que matou o povo (f9photos/Thinkstock)
Victor Caputo
Publicado em 16 de janeiro de 2018 às 17h10.
Última atualização em 16 de janeiro de 2018 às 17h10.
Durante quase quinhentos anos, a ciência tentou entender exatamente o que dizimou a população asteca, o povo indígena que morava no México antes da invasão dos europeus. Havia várias teorias para a epidemia, conhecida apenas por "cocoliztli" – "pestilência", na língua náuatle – poderia ser varíola, sarampo, caxumba e até mesmo gripe. Mas, finalmente, a verdadeira culpada foi encontrada por cientistas alemães: febre entérica – também conhecida como febre tifoide.
Causada por uma variedade da bactéria salmonela, a febre tifoide matou 15 milhões de astecas em 5 anos, entre 1545 e 1550 – o correspondente a 80% da população. Ashild Vagene, co-autor do estudo publicado no periódico científico Nature Ecology and Evolution, explicou ao jornal inglês The Guardian que a cocoliztli não foi, porém, a única praga que atingiu a região na época. “A cocoliztli de 1545-50 foi uma das muitas epidemias que afetaram o México depois da chegada dos europeus”, afirmou.
Violenta, a tifoide doença mata em cerca de três ou quatro dias – após causar febres altas, dores de cabeça e sangramento dos olhos, boca e nariz. Esse surto é considerado um dos mais mortais da história da humanidade, chegando perto da Peste Negra, que tirou 25 milhões de vida no oeste da Europa durante o século XIV.
A descoberta veio após a extração de DNA de 29 esqueletos enterrados em um cemitério da época da cocoliztli; neles, os cientistas descobriram traços da bactérica salmonela entérica – que não só causa a febre entérica como também estava presente na Europa na mesma época.
O outro co-autor do estudo, Alexander Herbig, também explicou a conclusão da descoberta. “Nós testamos todos os patógenos de bactérias e vírus disponíveis, e a salmonela entérica foi o único germe detectado.”
É possível, porém, que outros patógenos tenham passado despercebidos ou sejam completamente desconhecidos. Ainda assim, agora é possível confirmar – de uma vez por todas – que o grande azar dos astecas foi justamente ter sido encontrados pelos espanhóis.
Este texto foi publicado originalmente no site da Superinteressante.