Sue Finley: A matemática começou a trabalhar na Nasa no departamento das mulheres conhecidas como "human computers" e atua na agência até hoje (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 18 de julho de 2019 às 19h07.
Última atualização em 18 de julho de 2019 às 19h09.
Quando Sue Finley foi contratada no Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Nasa, perto de Los Angeles, na década de 1950, entrou em um serviço 100% feminino.
"A mulher que estava no comando (...) pensou que os homens não a obedeceriam e, por isso, só contratou mulheres", conta à AFP Finley, hoje com 82 anos, e funcionária mais antiga da agência espacial americana.
Sua história ilustra a trajetória de muitas mulheres de sua época. Sua contribuição aos grandes programas espaciais americanos como "calculadora humana" permaneceu nas sombras, embora tenha sido essencial.
Foi graças a mulheres como ela, dotadas de grandes habilidades matemáticas, que os astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin conseguiram caminhar na Lua há 50 anos.
Seus cálculos permitiram construir os foguetes, projetar os combustíveis e desenvolver as antenas que conectaram os astronautas à Terra.
Finley sempre amou os números. No ensino médio, tirava as melhores notas e venceu uma competição para resolver de cabeça equações de química.
Sua primeira inclinação foi a arquitetura, da qual desistiu por falta de aptidões artísticas, conta. Sendo assim, apresentou-se ao cargo de secretária de uma companhia aeroespacial. Mas datilografava mal e não passou no teste de contratação.
"Me perguntaram: 'Você gosta de números?' Eu respondi: 'Ah, prefiro de longe os números às letras'", lembra, com um sorriso nos lábios. Ali começou sua carreira como "computador humano".
O trabalho consistia na época em fazer cálculos à mão e em máquinas eletromecânicas denominadas "Fridens".
Depois de conhecer seu marido, Peter Finley, ela teve a ideia de se candidatar ao Laboratório de Propulsão a Jato, fundado pela Universidade Caltech e que hoje em dia é o principal centro de exploração do sistema solar da Nasa.
Ali se deparou com um departamento cheio das famosas mulheres conhecidas como "human computers". Outra razão para a escolha de funcionárias do sexo feminino, explica, é que "as mulheres são mais baratas. E sempre foi assim".
Apesar disso, o trabalho dava prestígio e estas mulheres eram respeitadas pelos homens, lembra Sue. Mas um dia decidiu que queria criar seus dois filhos, depois do primeiro rebento do casal nascer natimorto.
Parou de trabalhar entre 1963 e 1969 para ficar com eles, até se dar conta de que ser dona de casa a estava levando à depressão.
"Eu era completamente nula como dona de casa", diz Sue. "O psicólogo me disse que realmente tinha que voltar ao trabalho", indicou.
A decisão não foi trivial. "Quando voltei a trabalhar como mãe e esposa, fui realmente uma pioneira da libertação da mulher".
Ao voltar, o JPL tinha mudado profundamente: os computadores com processadores tinham substituído os humanos. Então, para continuar sendo competitiva, Sue decidiu aprender a linguagem informática Fortran.
Uma de suas maiores façanhas, conta Nathalia Holt no livro "Rise of the Rocket Girls", é ter obtido uma solução para recuperar a sonda Galileu, que em outubro de 1989 sofreu uma falha grave.
Uma das antenas da sonda não abriu ao sair da órbita da Terra. Finley fez parte da equipe que projetou um programa para aumentar a capacidade da rede terrestre de antenas da Nasa para que pudessem escutar os sinais frágeis enviados pelas outras antenas da Galileu.
O programa funcionou, o que permitiu à Galileu enviar à Terra as imagens espetaculares de um cometa desintegrando-se e descobrir uma lua em órbita ao redor de um asteroide.
Sua missão preferida, no entanto, foi o programa Vega para o estudo de Vênus, uma colaboração em 1985 entre a União Soviética e outros países, incluindo a França.
A missão consistia em lançar balões-sonda à atmosfera do planeta. O papel de Finley era melhorar a eficiência e a precisão das antenas para rastrear o avanço dos balões.
"Era minha missão favorita porque era um grupo pequeno de pessoas", afirma.
Mais tarde, esta especialista em radiocomunicações ajudou a pousar os robôs exploradores Spirit e Opportunity em Marte em 2004, e a enviar a sonda Juno a Júpiter em 2016.
"É como uma caça ao tesouro ou solucionar um mistério: tentamos resolver problemas", diz, simplesmente, a respeito do seu trabalho.
Em 2019, a engenheira octogenária superou amplamente a idade de se aposentar, mas não tem a intenção de fazê-lo enquanto a Nasa ainda precisar dela. "Não quero parar, nada mais me interessa".