Ondas na Califórnia (Staff/Getty Images)
Vanessa Barbosa
Publicado em 18 de abril de 2017 às 13h30.
Última atualização em 18 de abril de 2017 às 13h35.
São Paulo - No debate sobre mudanças climáticas, o aumento do nível do mar, acompanhado de maior incidência de inundações, é comumente associado a riscos e prejuízos para as cidades costeiras. Mas seus impactos geográficos podem ir muito além — continente a dentro.
Quando o furacão Katrina atingiu o estado americano de Louisiana em 2005, devastando a cidade de Nova Orleans, localizada às margens do Rio Mississippi, milhares de evacuados correram para as cidades do interior em busca de segurança, aumentando a pressão nessas regiões.
Um novo estudo da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, prevê que isso poderia acontecer novamente como resultado do aumento do nível do mar. Em artigo publicado nesta semana na Nature Climate Change, pesquisadores estimam que, só nos EUA, aproximadamente 13,1 milhões de pessoas poderiam ser deslocadas pela subida das águas oceânicas.
O estudo é a primeira tentativa de modelar o destino de milhões de migrantes potencialmente deslocados de comunidades costeiras densamente povoadas. Em busca de abrigo, os forçados a se mudar naquele país teriam como destino principal cidades como Atlanta, Houston e Phoenix.
"Nós normalmente pensamos sobre a elevação do nível do mar como uma questão costeira, mas se as pessoas são forçadas a se mover porque suas casas são inundadas, a migração pode afetar muitas comunidades sem acesso ao mar", disse o principal autor do estudo, Mathew Hauer.
Segundo o pesquisador, embora as avaliações sobre o aumento do nível do mar sejam numerosas e ajudem a planejar o desenvolvimento de infraestruturas críticas nas zonas costeiras, poucos estudos investigam o destino das pessoas deslocadas e como a migração afetará essas regiões.
O novo estudo combina estimativas de populações em risco de elevação do nível do mar dentro de uma simulação de sistemas de migração para estimar o número de afetados e destinos potenciais de migrações nos Estados Unidos ao longo do próximo século.
"Alguns dos destinos inesperados sem litoral, como Las Vegas, Atlanta e Riverside, na Califórnia, já enfrentam problemas de gestão da água ou de crescimento", disse Hauer, destacando que "incorporar, no planejamento, estratégias de acomodação de longo alcance poderia ajudar a aliviar a intensificação futura desses desafios".
Segundo o estudo, entender as relações entre estressores ambientais, como a alta das águas oceânicas, e os movimentos migratórios é uma tarefa complexa. As migrações podem ser tanto temporárias de curto prazo quanto permanentes, mas uma coisa é certa: o aumento do nível do mar é um estressor ambiental único porque converte permanentemente terra habitável em água inabitável.
Embora restrita a um único país, a pesquisa dá uma ideia do efeito dominó que as mudanças climáticas podem ter sobre as cidades. Considerando o cenário mundial, os impactos da elevação do nível do mar ganham contornos ainda mais sombrios. Segundo pesquisa recente, atualmente, cerca de 1,9 bilhão de habitantes, ou 28% da população mundial, vivem a menos de 100 km das zonas costeiras em áreas menos de 100 metros acima do nível do mar.