Revolta: pesquisa aconselha que pessoas não discutam pela internet (fizkes/Thinkstock)
Victor Caputo
Publicado em 7 de dezembro de 2017 às 10h06.
Bolsonaro. Sérgio Moro. Reforma agrária. Grupo da família. Ler Game of Thrones ou não? E, é claro, mamilos. Que atire a primeira pedra quem nunca arrumou uma confusão das boas no Facebook por causa de uma dessas polêmicas.
Um artigo científico publicado no final de outubro revelou por que o arranca-rabo virtual é uma tentação tão grande até para você, que na vida real, longe das telas, é um ser humano tão equilibrado e educado, avesso a altercações.
Em um dos quatro testes relatados, psicólogos de Berkeley e da Universidade de Chicago, nos EUA, mostraram a 297 voluntários vídeos, áudios e textos de pessoas que argumentavam a respeito de tópicos sobre os quais normalmente se tem opiniões fortes, como aborto, guerra, rap ou música country.
Após ver, ouvir ou ler os argumentos, os voluntários, que eram de diferentes orientações políticas, precisavam dar aos interlocutores uma nota em uma escala que mede o quanto você considera outro ser humano efetivamente um ser humano – e não um animal irracional, com capacidades cognitivas limitadas.
A avaliação incluía itens como “ele é culto e refinado?”, “ele é racional e lógico?”, “ele parece uma criança, e não um adulto?”, e por aí vai.
Não deu outra: todo mundo parece sempre pensar que as pessoas de quem discorda são mais burras e insensíveis que a média. Mas o efeito era especialmente forte quando o argumento contrário era transmitido por escrito, e não pela voz.
“Quando duas pessoas acreditam em coisas diferentes, há uma tendência a não só reconhecer a diferença de opinião como de diminuir as capacidades mentais do seu opositor”, afirmam os autores. “Como nós não podemos entrar na mente de uma pessoa para saber como é lá dentro, sua ‘qualidade’ precisa ser inferida de indícios indiretos”.
E é claro que uma voz humana, com muito mais nuances além do que o conteúdo da fala em si, transmite mais informações do que um texto – é mais orgânica, e dá mais impressão de que há um cérebro por trás do que é dito. Assim, argumentos falados acabam soando mais razoáveis que os escritos.
Ao Washington Post, Juliana Schroeder, uma das pesquisadoras envolvidas, afirmou que o estudo ajuda a explicar porque o advento das redes sociais veio acompanhado de uma maior polarização política. “A tecnologia está tornando nossas interações mais baseadas em texto. A maior parte das pessoas recebe suas notícias por meio das redes sociais. É fácil imaginar como isso se torna cíclico: desumanização leva a mais polarização que leva a mais desumanização.”
Este texto foi publicado originalmente no site da Superinteressante.