Ciência

Além do arco-íris: cientistas descobrem cor inédita para humanos

Usando lasers direcionados célula a célula na retina, pesquisadores criaram uma cor que não pode ser vista em condições naturais

Publicado em 19 de abril de 2025 às 12h41.

Tudo sobrePesquisas científicas
Saiba mais

Pesquisadores das universidades de Berkeley e Washington apresentaram um novo sistema experimental que expande os limites da visão humana. Chamado de Oz, o protótipo é capaz de estimular cones fotossensíveis da retina de forma individual, permitindo que os cientistas exibam imagens com cores nunca antes percebidas por seres humanos.

O destaque do estudo, publicado neste mês, é a geração de uma nova cor batizada de “olo”, descrita pelos voluntários como um azul-esverdeado extremamente saturado. A cor é produzida ao ativar seletivamente apenas os conhecidos cones M, um tipo de célula sensível à luz que normalmente divide a cena visual com os cones L e S. Na natureza, qualquer luz que estimula os cones M também ativa os outros tipos, o que limita a gama de cores percebidas.

O sistema Oz consegue contornar esse limite usando uma combinação de optoretinografia e oftalmoscopia com varredura por luz adaptativa (AOSLO). Primeiro, os cientistas classificam os cones da retina por tipo (L, M ou S). Em seguida, um feixe de laser escaneia a retina, emitindo 105 micropulsos de luz por segundo, direcionados com precisão para células específicas.

Em testes com cinco voluntários, a nova cor foi percebida de forma clara e consistente quando exibida em fundos neutros. Para alcançar um emparelhamento visual com cores conhecidas, os participantes precisaram diluir a olo com luz branca, o que comprova que ela está fora do chamado gamut natural da visão humana.

Além disso, o sistema Oz permitiu a criação de estímulos visuais como linhas vermelhas orientadas e pontos giratórios sobre fundos de cor olo. Os voluntários conseguiram identificar corretamente esses padrões apenas quando os micropulsos de laser eram direcionados com exatidão — pequenas imprecisões anulavam a percepção da nova cor.

O estudo também incluiu experimentos de reconhecimento de imagens e vídeos, nos quais os participantes conseguiram distinguir formas e movimentos graças à nova codificação de cores. Quando o sistema era propositalmente descalibrado, as imagens se tornavam indistintas, e a percepção se limitava à cor natural do laser verde usado na estimulação.

Um novo paradigma para cor e imagem

Ao contrário dos métodos tradicionais de exibição de cores, que combinam luzes de diferentes comprimentos de onda (como nas telas RGB), o Oz propõe um novo conceito: metamerismo espacial. Em vez de misturar espectros, o sistema manipula quais cones são ativados no espaço, criando percepções únicas a partir de um único feixe de luz monocromático.

Os pesquisadores acreditam que essa tecnologia pode abrir novas possibilidades em campos como neurociência, reabilitação visual e até mesmo no entendimento de como o cérebro constrói a percepção de cor. Um dos experimentos futuros mais ambiciosos é usar o Oz para simular a presença de um quarto tipo de cone na retina humana — algo que poderia, teoricamente, induzir tetacromatismo, uma condição que ampliaria o espectro visível por humanos.

Apesar dos avanços, o sistema ainda é limitado a uma pequena área da retina e exige fixação ocular precisa. Para ampliar o campo de visão ou permitir movimentos naturais dos olhos, será necessário aumentar a capacidade de rastreamento ocular, aprimorar o foco óptico e expandir o volume de dados processados em tempo real.

Ainda assim, o Oz representa um salto tecnológico ao permitir, pela primeira vez, o controle célula a célula da primeira camada neural ligada à visão. Com precisão suficiente, os pesquisadores conseguiram enganar o sistema visual e fazer com que o cérebro percebesse uma nova cor — uma que não existia até agora.

Acompanhe tudo sobre:Pesquisas científicas

Mais de Ciência

Vida em outro planeta? O que se sabe sobre a nova descoberta de astrônomos

Qual a fase da Lua de hoje, 19 de abril de 2025?

Bacalhau é peixe ou preparo? Veja curiosidades sobre prato típico da Páscoa

Qual a fase da Lua de hoje, 18 de abril de 2025?