Hortas urbanas: defensores dizem que hortas urbanas são solução para aflições urbanas (Qilai Shen/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 21 de junho de 2017 às 14h54.
Última atualização em 21 de junho de 2017 às 15h23.
Em lugares como Nova York e Boston, o apelo das fazendas sustentáveis em telhados é irresistível. A crença é que, se uma área suficiente de espaços não utilizados fosse convertida em campos férteis, a produção local de couve e espinafre para as massas poderia virar realidade, mesmo nos bairros mais populosos.
Os defensores dizem que as hortas urbanas são uma solução para quase todas as aflições urbanas, pois dão acesso a alimentos saudáveis em bairros desabastecidos e também geram estímulos econômicos, envolvimento da comunidade e reduções significativas das emissões de gases causadores do efeito estufa. Mas um novo estudo publicado na revista Environmental Science & Technology aponta que em climas mais frios, como o do nordeste dos EUA, a redução das emissões é mínima.
“Os defensores da agricultura urbana tendem a se concentrar na distância entre a fazenda e o prato, comparando os alimentos locais aos alimentos ambientalmente sustentáveis, reduzindo a complexidade da sustentabilidade alimentar a um único aspecto”, escrevem os pesquisadores. Na realidade, a redução do carbono possibilitada pela agricultura urbana é muito menor do que muitos acreditam. No melhor cenário, a agricultura urbana reduziria a pegada de carbono relacionada aos alimentos de uma cidade da região nordeste dos EUA em 2,9 por cento, apontou o estudo.
Os autores do estudo usaram Boston para provar esse ponto de vista.
Primeiro, eles estabeleceram a base de impacto ambiental relacionada à alimentação da cidade combinando informações alimentares disponibilizadas ao público com dados sobre os custos de fornecimento desses alimentos. Em seguida, determinaram o espaço disponível para a agricultura urbana, incluindo lotes de terra e espaço utilizável em telhados. Por último, usaram dados de várias fazendas de Boston e Nova York para entender os recursos utilizados, incluindo energia baseada em combustíveis fósseis, os vegetais produzidos e seu impacto ambiental global. Em última análise, os pesquisadores descobriram que os ganhos ambientais da agricultura urbana são “marginais”.
A razão é que, embora os vegetais cultivados na cidade possam ter um impacto ambiental ligeiramente menor do que aqueles cultivados a milhares de quilômetros de distância, a horticultura nunca foi o verdadeiro problema. Maçãs e tomates não respondem pela maior parte das emissões de gases causadores do efeito estufa geradas pelas dietas; quem responde são os animais. A carne e os produtos lácteos contribuem com 54 por cento do impacto potencial da dieta americana sobre as mudanças climáticas. Se os moradores das cidades realmente quiserem diminuir suas pegadas de carbono, eles devem virar veganos. Para ganharem pontos bônus, eles podem transformar seus telhados em jardins solares em vez de cultivarem vegetais.
Há muitos motivos para adotar a agricultura urbana. O acesso maior à produção pode ajudar a melhorar a dieta dos moradores das cidades e a substituição de pavimento por terra pode ajudar a mitigar o escoamento de água, por exemplo. Mas a desaceleração das mudanças climáticas não está entre esses motivos.
Os possíveis benefícios econômicos da agricultura urbana também são menos promissores do que os defensores esperavam, apontou o estudo. Mesmo que os vegetais cultivados em Boston fossem vendidos dentro da área metropolitana como um todo, o valor ainda seria menor que 0,5 por cento do produto interno bruto regional. Parte desse crescimento iria para bairros de baixa renda, mas a maior parte fluiria para áreas com índices de pobreza inferiores a 25 por cento.
“Eu sou a favor da agricultura urbana”, diz Benjamin Goldstein, da Universidade Técnica da Dinamarca e autor principal do estudo. “Só quero ter certeza de que seja feita pelos motivos certos.”