Ciência

Acesso a vacinas de RNA mensageiro agrava diferenças na pandemia

Apenas algumas instalações nos Estados Unidos e na Europa Ocidental respondem por quase todo o suprimento mundial de imunizantes de RNAm

Funcionários preparam matéria-prima para o RNA mensageiro, primeira etapa da produção da vacina contra a Covid-19, no laboratório da BioNTech  (Bloomberg/Bloomberg)

Funcionários preparam matéria-prima para o RNA mensageiro, primeira etapa da produção da vacina contra a Covid-19, no laboratório da BioNTech  (Bloomberg/Bloomberg)

TL

Thiago Lavado

Publicado em 17 de julho de 2021 às 07h00.

A nova onda de casos de Covid-19 amplia uma das maiores injustiças da era da pandemia: a lacuna entre países que têm vacinas de RNA mensageiro e os que não têm.

A tecnologia de ponta, que estreou durante a pandemia, mostrou ser mais eficaz do que qualquer outra para evitar infecções e doenças graves causadas pelo coronavírus. No entanto, apenas algumas instalações nos Estados Unidos e na Europa Ocidental respondem por quase todo o suprimento mundial de imunizantes de RNAm, deixando muitos países em uma corrida desesperada para recuperar o atraso.

Países como Coreia do Sul, Indonésia e África do Sul buscam estabelecer a produção de RNAm e desenvolver outras colaborações no segmento, mas também percebem que podem levar anos para dominar a nova ciência, o que deixa seus países dependentes de vacinas menos potentes que poderiam expor a população a ondas repetidas de Covid e atrasar a reabertura das economias.

Na África do Sul, onde os imunizantes são tão escassos que apenas 5% da população foi vacinada, no mês passado o governo anunciou uma parceria com a Organização Mundial da Saúde e fabricantes de medicamentos locais em um plano ambicioso para transformar o país em um centro para as primeiras vacinas de RNAm “Made-in-Africa”.

Um elemento crítico faltava no plano: uma empresa com a tecnologia para produzir vacinas de RNAm. Para um acesso mais rápido, o polo sul-africano precisaria de um dos três desenvolvedores que já estão produzindo doses de RNAm para transferir know-how, mas até agora a Moderna, que tem sede em Cambridge, Massachusetts, não se comprometeu, tampouco a Pfizer, de Nova York, ou sua parceira alemã BioNTech.

“São empresas, sabemos que não é muito fácil tomar decisões”, disse Bartholomew Dicky Akanmori, conselheiro regional da OMS para regulamentação, qualidade e segurança de vacinas para a África. “Estão relutantes”, afirmou em entrevista.

Sem esse tipo de acesso, cientistas de países como a África do Sul precisariam aperfeiçoar o processo complicado de fabricar uma vacina de RNAm, que envolve etapas como a produção de nanopartículas de lipídios, os veículos usados em uma dose de RNAm para entregar o código genético que ajuda a desencadear a resposta imunológica.

Então teriam que desenvolver, testar e produzir em massa as vacinas, o que poderia levar anos e exigir recursos aos quais muitas nações, especialmente as mais pobres, não têm acesso. Com potencial para diversas aplicações, desde vacinas para combater outros vírus até drogas contra o câncer, essa falta de infraestrutura para a tecnologia RNAm pode colocá-los em desvantagem no setor farmacêutico por muitos anos.

Mas não são apenas as nações mais pobres que se preocupam com o acesso ao RNAm. Alcançar a produção doméstica de vacinas de RNAm tornou-se um problema de segurança nacional em alguns países, devido às falhas na cadeia de suprimentos, restrições de exportação e picos de demanda que afetaram a distribuição mais ampla de vacinas contra a Covid.

“As pessoas na Coreia perguntam ao governo: ‘Por que não temos nossas próprias vacinas?’”, disse Sun Woo Hong, CEO de uma nova subsidiária de vacinas da OliX Pharmaceuticals, sediada nos arredores de Seul. “Como coreano, ter a plataforma de desenvolvimento de uma vacina de RNAm na Coreia é muito importante.” A empresa fechou um acordo no mês passado para colaborar em uma vacina de RNAm com o conglomerado coreano Samyang Holdings e em produtos de RNAm para outras doenças com a GC Pharma.

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