Ciência

Primeiro feixe de elétrons circula em acelerador de partículas brasileiro

O acelerador de partículas Sirius permitirá a realização de experimentos inéditos, com benefícios para áreas como energia, agricultura e meio ambiente

Nova fonte de luz síncrotron brasileira permitirá a realização de experimentos inéditos, com benefícios para áreas como saúde, energia, agricultura e meio ambiente (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM)/Divulgação)

Nova fonte de luz síncrotron brasileira permitirá a realização de experimentos inéditos, com benefícios para áreas como saúde, energia, agricultura e meio ambiente (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM)/Divulgação)

Isabela Rovaroto

Isabela Rovaroto

Publicado em 18 de março de 2019 às 15h47.

Última atualização em 19 de março de 2019 às 15h21.

Um primeiro feixe de elétrons circulou no acelerador de partículas Sirius no dia 8 de março. O feito é considerado um marco para a implantação da nova fonte de luz síncrotron brasileira, situada no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas.

Segundo informou a assessoria de comunicação do CNPEM, as partículas circularam pela primeira vez no booster, o segundo dos três aceleradores de elétrons que compõem o Sirius.

Após a produção e aceleração inicial dos elétrons no acelerador linear (Linac), é no booster que as partículas circulam para ganhar cada vez mais energia, até que atinjam os níveis adequados para gerar a luz síncrotron. Quando estão "prontos", os elétrons são depositados no acelerador principal (anel de armazenamento), onde permanecem por longos períodos e dão quase 600 mil voltas por segundo.

A luz síncrotron é um tipo de radiação que se estende por uma faixa ampla do espectro eletromagnético – luz infravermelha, ultravioleta e raios X. É produzida quando os elétrons, acelerados a velocidades próximas à da luz, têm sua trajetória desviada por campos magnéticos. Com altíssimo brilho, é capaz de revelar estruturas, em alta resolução, dos mais variados materiais orgânicos e inorgânicos, como proteínas, vírus, rochas, plantas, ligas metálicas e outros.

Os próximos passos para a instalação do Sirius incluem a conclusão da montagem do terceiro acelerador de partículas e das primeiras estações de pesquisa. A abertura da nova fonte de luz síncrotron está prevista para 2020 e permitirá a realização de experimentos hoje impossíveis no país, abrindo novas perspectivas de pesquisa em áreas estratégicas, como saúde, agricultura, energia e meio ambiente.

Na agricultura, por exemplo, a luz síncrotron pode ser usada para análise do solo e para o desenvolvimento de fertilizantes mais eficientes e baratos e, ao mesmo tempo, menos agressivos ao meio ambiente e à saúde. Fontes de luz têm aplicação também no mapeamento da concentração, biodisponibilidade e localização de nutrientes em espécies vegetais.

Em energia, permite o desenvolvimento de novas tecnologias de exploração de petróleo e gás natural, além de ajudar a enteder e desenvolver materiais e sistemas para células solares, células a combustível e baterias.

Na área da saúde, pesquisas feitas com luz síncrotrons são fundamentais para identificação das estruturas de proteínas e unidades intracelulares complexas, etapa importante no desenvolvimento de novos medicamentos, e para o desenvolvimento de nanopartículas usadas no diagnóstico de câncer e no combate a vírus e bactérias.

Projeto brasileiro

O Sirius está abrigado em um prédio de 68 mil metros quadrados. Em novembro de 2018, foi entregue a primeira etapa do projeto, que compreendeu a conclusão das obras civis e a entrega do prédio que abriga toda a infraestrutura de pesquisa, além da conclusão da montagem dos dois primeiros aceleradores de elétrons.

A entrega da segunda etapa do projeto inclui o início da operação do Sirius e a abertura das seis primeiras estações de pesquisa para a comunidade científica. O projeto completo inclui outras sete estações de pesquisa (denominadas linhas de luz), que deverão entrar em operação por volta de 2021.

O equipamento poderá comportar até 38 estações experimentais. Sirius foi também desenhado para permitir novos upgrades no futuro, que prolongarão sua vida útil e o manterão na fronteira do conhecimento.

O projeto completo – que inclui o prédio, as três estruturas aceleradoras, 13 estações de pesquisa, além de toda a mão de obra – demanda investimentos de R$ 1,8 bilhão. Esse valor está sendo financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

Projetado por brasileiros, o Sirius teve até agora cerca de 85% de seus recursos captados no país, em parceria com empresas nacionais. Para sua construção foram estabelecidos contratos com mais de 300 empresas de pequeno, médio e grande porte, das quais 45 estão envolvidas diretamente em desenvolvimentos tecnológicos, em parceria com o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e o CNPEM.

A FAPESP apoiou micro, pequenas e médias empresas paulistas que se interessaram em participar como fornecedoras no projeto de construção da obra.

Acompanhe tudo sobre:AceleradorasCampinassao-paulo

Mais de Ciência

Telescópio da Nasa mostra que buracos negros estão cada vez maiores; entenda

Surto de fungos mortais cresce desde a Covid-19, impulsionado por mudanças climáticas

Meteoro 200 vezes maior que o dos dinossauros ajudou a vida na Terra, diz estudo

Plano espacial da China pretende trazer para a Terra uma amostra da atmosfera de Vênus