Ciência

A nova origem para surgimento de água na Terra, segundo estudo

Descoberta explicaria as condições estéreis encontradas em Mercúrio, Vênus e Marte, mas não nosso planeta azul

Terra: cientistas afirmam ter identificado quais rochas espaciais podem ter sido responsáveis pelo surgimento de água no planeta (James Cawley/Getty Images)

Terra: cientistas afirmam ter identificado quais rochas espaciais podem ter sido responsáveis pelo surgimento de água no planeta (James Cawley/Getty Images)

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AFP

Publicado em 27 de agosto de 2020 às 20h00.

A água cobre 70% da superfície da Terra, mas como este elemento crucial para a vida como a conhecemos surgiu é tema de um longo debate científico.

Uma equipe de cientistas franceses avançou mais um passo na solução deste quebra-cabeça nesta quinta-feira (27), ao reportar na revista científica Science ter identificado quais rochas espaciais podem ter sido responsáveis por seu aparecimento.

A cosmoquímica Laurette Piani, que conduziu o estudo, disse à AFP que, ao contrário das teorias dominantes, a água da Terra já poderia estar contida nas rochas que formaram o planeta.

Segundo modelos remotos de como o Sistema Solar se formou, os grandes discos de gás e poeira que giravam em torno do Sol e, eventualmente, formaram os planetas internos eram quentes demais para formar gelo.

Isto explicaria as condições estéreis encontradas em Mercúrio, Vênus e Marte, mas não nosso planeta azul, que tem vastos oceanos, uma atmosfera úmida e uma geologia bem hidratada.

A ideia mais comum é que a água foi trazida posteriormente por objetos extraterrestres e os principais suspeitos são os meteoritos ricos em água, conhecidos como condritos carbonáceos.

Mas o problema era que sua composição química não combina muito com as rochas do nosso planeta.

Elas também se formaram nos confins do Sistema Solar, tornando-se menos propensas a ter bombardeado a jovem Terra.

Outros tipos de meteorito, denominados condritos enstatitas (ECs), são muito mais próximos de uma paridade química, indicando que teriam sido os formadores da Terra e de outros planetas internos do Sistema Solar.

No entanto, devido a que estas rochas se formaram perto do Sol, presumia-se que fossem muito secas para serem responsáveis pelos ricos reservatórios de água da Terra.

Para testar se isto de fato é verdade, Piani e seus colegas da Universidade de Lorraine usaram uma técnica denominada espectrômetro de massa para medir o hidrogênio contido em 13 condritos enstatitas.

Eles descobriram que as rochas continham hidrogênio suficiente para fornecer à Terra pelo menos três vezes a massa de água de seus oceanos.

Também mediram os dois tipos de hidrogênio, conhecidos como isótopos, porque a proporção relativa dos mesmos é muito diferente entre um e outro objeto do Sistema Solar.

"Nós descobrimos que a composição isotópica do hidrogênio dos condritos enstatitas é similar à da água armazenada no manto terrestre", disse Piani, que comparou o achado a uma paridade de DNA.

Ela acrescentou que o estudo não exclui que tenha ocorrido uma adição posterior de água de outras fontes, como cometas, mas indica que os condritos ensatitas contribuíram significativamente para que que se formasse a reserva de água na Terra na época.

O trabalho "traz um elemento crucial e elegante para este quebra-cabeça", escreveu Anne Peslier, cientista planetária da Nasa, em um editorial que acompanhou o estudo.

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