Casa: criação é "revolucionária em comparação com o que se faz hoje em termos de precisão e montagem robótica" (BrianAJackson/Thinkstock)
AFP
Publicado em 27 de junho de 2018 às 20h19.
Última atualização em 27 de junho de 2018 às 21h51.
Tem quatro paredes, uma porta, janelas, um teto e uma chaminé, mas é invisível ao olho humano. A menor casa do mundo amplia os limites do infinitamente pequeno.
Este é um dos principais projetos do Instituto FEMTO-ST de Besançon, no leste da França, digno herdeiro da tradição relojoeira desta cidade.
Largura: 10 mícrons. Comprimento: 20 mícrons. Altura: 15 mícrons. Estas são as dimensões desta microcasa do departamento de nanorrobótica do Instituto FEMTO-ST.
Esta proeza tecnológica é "menor que o diâmetro de um pelo do braço", explica um de seus criadores, Jean-Yves Rauch. "Estendemos os limites da precisão e do tamanho dos objetos", se entusiasma o pesquisador.
"Ninguém mais no mundo pode montar esta microcasa, devido à precisão requerida", diz Michaël Gauthier, subdiretor do FEMTO-ST, um laboratório associado ao Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS).
Esta microcasa foi "construída" em laboratório, em uma câmara de vácuo de 60 cm3. No interior há um microscópio eletrônico capaz de aumentar uma imagem em um milhão de vezes, um canhão de íons que serve de maçarico e um robô para mover os objetos e as partes da casa.
Os pesquisadores controlam o robô e o canhão de íons através de um computador situado ao lado da câmara de vácuo. O canhão de íons corta o modelo da casa sobre uma membrana de vidro de 1,2 mícrons de espessura (um mícron = um milésimo de milímetro). Os muros, o teto e a chaminé completam a estrutura.
Esta inovação foi idealizada e realizada pelo centro de pesquisa para "demonstrar o poder" de seu novo sistema de microrrobótica, a plataforma "μRobotex" (Microrobotex), que supera os limites das nanotecnologias óticas mediante a combinação de várias tecnologias existentes.
"Nossa casa tem todas as capacidades técnicas e tecnológicas, é revolucionária em comparação com o que se faz hoje em termos de precisão e montagem robótica", diz Jean-Yves Rauch.
Com este avanço, "fibras óticas finas como um fio de cabelo humano podem ser inseridas em lugares inacessíveis como os motores de reação e os vasos sanguíneos para detectar níveis de radiação ou moléculas virais", dizem os pesquisadores.
Aclamada em maio pela revista americana Journal of Vacuum Science and Technology A, esta inovação do departamento de nanorrobótica do FEMTO-ST se inscreve na tradição do trabalho de precisão próprio da relojoaria.
Em Besançon, a capital da relojoaria francesa desde o fim do século XVIII, "existe um ecossistema e uma experiência industrial orientada para as microtecnologias e a alta precisão, que se encontra só em nossa região e na Suíça", aponta Gauthier.
"O departamento de nanorrobótica, cuja equipe é a maior da Europa com aproximadamente 50 membros, herdou esta cultura da medição precisa do tempo e a precisão das peças", acrescenta o subdiretor.
Com mais de 700 pesquisadores e um orçamento anual global de 39 milhões de euros, o instituto é uma das maiores unidades de pesquisa da França nas disciplinas das ciências da engenharia, informação e comunicação.
Seus trabalhos de pesquisa irrigam campos industriais tão diversos como a energia, o transporte, a saúde, as telecomunicações, o espaço, a instrumentação e a indústria do luxo.