Ciência

A humanidade mandou uma mensagem a ETs. E agora?

É improvável que haja alguém do outro lado da linha. Mas, se houver, eles podem ser mais avançados do que nós

Espaço: humanidade enviou mensagens a possíveis ETs (ESA/Hubble/NASA/Reprodução)

Espaço: humanidade enviou mensagens a possíveis ETs (ESA/Hubble/NASA/Reprodução)

Victor Caputo

Victor Caputo

Publicado em 2 de dezembro de 2017 às 07h00.

Última atualização em 2 de dezembro de 2017 às 07h00.

Emitir mensagens de rádio em direção ao céu, sem um alvo definido, pode até parecer brincadeira de criança – o tipo de coisa que faz pessoas normais acharem que cientistas têm um parafuso a menos.

Não é: enviar essas cartas sem destinatário está entre as decisões mais importantes (e perigosas) que podemos tomar como espécie. Uma civilização com tecnologia mais avançada que a nossa pode muito bem receber esses recados. E, ao descobrir nossa existência, resolver nos colonizar da mesma maneira que os europeus colonizaram a América. Nós já vimos esse filme.

É por isso que a decisão de disparar pulsos de rádio em código binário na direção da estrela GJ 273 – uma anã-vermelha a 12,4 anos luz da Terra, anfitriã de um planeta potencialmente habitável – foi recebida com reservas pela comunidade científica.

Os autores da mensagem são de um projeto chamado METI – Messaging Extraterrestrial Intelligence, mensagens para inteligência extraterrestre. O radiotelescópio utilizado está instalado em Tromsø, na Noruega. Normalmente ele só recebe sinais, mas pode ser usado para emiti-los, se necessário.

Foram oito horas de transmissão, distribuídas ao longo de três dias do mês de outubro. A mensagem em si é uma breve melodia, composta especialmente para a ocasião.

Caso existam cientistas alienígenas na escuta do outro lado, eles receberão a informação necessária para reconstruir a música em estado bruto, e precisarão aplicar princípios matemáticos básicos (ao que tudo indica, universais) para interpretá-la. Mesmo que eles não tenham ouvidos, os padrões que vão emergir serão um claro sinal de que há alguém que sabe somar dois mais dois do outro lado da linha. No fundo, a mensagem do METI é telefonema, que adota a música como língua universal.

“É como criar um quebra-cabeças”, afirmou um dos membros da equipe responsável, 0 cientista cognitivo Mike Matessa, à Wired. “Nós tentamos tornar tudo o mais fácil possível, mas é bem desafiador quando você não pode se referir a nada da sua cultura, só à ciência em si.”

Muitos cientistas do SETI – o projeto que deu origem ao METI, e que se dedica a receber mensagens de rádio, em vez de enviá-las – consideram esse tiro no escuro um risco que não podemos correr. Segundo defensores desse argumento, como o astrofísico Stephen Hawking, é como gritar na selva sem saber se há ursos ou leões por perto – não é inteligente anunciar onde você está se você não tem certeza de que pode lidar com as consequências desse contato.

O argumento vai além: faz muito pouco tempo que a humanidade é capaz de enviar mensagens. O rádio foi criado há pouco mais de 100 anos, o que é uma vírgula na escala cósmica. É bem provável, do ponto de vista estritamente estatístico, que qualquer civilização alienígenas capaz de decodificar nosso contato tenha desenvolvido tecnologia avançada há bem mais tempo do que nós. E se eles sabem se comunicar melhor do que nós, eles com certeza sabem atirar melhor do que nós.

Por outro lado, apontar antenas para o céu não tem se provado frutífero. A humanidade nunca recebeu transmissões que se assemelham as que poderiam ser produzidas por vida inteligente. Isso pode ter vários motivos: os alienígenas podem ter se dado conta dos riscos de anunciar sua posição, e desistido de entrar em contato. Eles podem ter causado a própria extinção assim que alcançaram tecnologias mais avançadas (a Guerra Fria está aí para provar que é possível). E por aí vai.

Ainda bem que, caso o planeta GJ 273 tenha vida inteligente, receba algo e resolva nos responder – o que é altamente improvável –, a resposta só chegará daqui no mínimo 25 anos. Dá tempo de arrumar as malas.

Este texto foi publicado originalmente no site da Superinteressante.

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