O planeta está à beira de um colapso climático e reverter essa trajetória é o grande desafio do século (NASA/Divulgação)
De uns anos para cá, você certamente tem ouvido falar com frequência de mudanças climáticas, aquecimento global, emissões de carbono. A recorrência ao tema não é por acaso: conter a crise ambiental que atinge hoje o planeta é prioridade máxima. E diz respeito a todos, seja você empreendedor, executivo de uma companhia, gestor público ou cidadão comum.
Há exatos 30 anos, na histórica convenção que aconteceu no Brasil, conhecida como Eco92, o cenário atual já tinha sido claramente desenhado pelos cientistas. Porém, havia a barreira do ceticismo e só nos últimos anos, enfim, o mundo acordou para a urgência da questão. Talvez a ficha tenha caído um pouco tarde, segundo os estudos mais recentes, mas o fato é que agora é preciso correr atrás do prejuízo.
Para ter um panorama do assunto, EXAME selecionou cinco perguntas e respostas essenciais para entender o tema, tão relevante.
São transformações nos padrões de temperatura e clima. Flutuações naturais nesse sentido já aconteceram ao longo da história do planeta, mas atualmente o aquecimento está ocorrendo de forma acelerada, sem precedentes em milhares de anos, com sérias consequências para a estabilidade climática da Terra.
O relatório de 2021 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) mostrou que as quatro últimas décadas tiveram, sucessivamente, temperaturas mais altas que qualquer outra anterior. A última (2011-2020) foi a mais quente já registrada.
Não há mais dúvida de que esse processo é induzido pela ação humana. A Terra está cerca de 1,1 °C mais quente do que no final do século 19 e os estudos mais recentes comprovam que a humanidade é responsável por 1,07 °C desse total.
Isso se deve principalmente à emissão na atmosfera de enormes quantidades de gases de efeito estufa (GEE), como dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, provenientes em grande parte da queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás. Segundo o relatório, as concentrações desses gases estão em seus níveis mais altos em 2 milhões de anos.
Mapa criado pela Nasa mostra a evolução das temperaturas no planeta: 2016 e 2020 foram os mais quentes já registrados (as manchas vermelhas são áreas em que a temperatura ficou acima do padrão)
Muitos pensam que mudanças climáticas são sinônimo de temperaturas mais altas. E ponto. No entanto, a elevação da temperatura é só o início da história. O planeta é um sistema complexo, em que tudo está conectado, e uma alteração em uma área pode afetar todas as outras.
Entre os ecos do aquecimento global, estão impactos climáticos severos, como já ocorre de forma generalizada em todo o mundo, conforme constatou o relatório 2022 do IPCC. Isso inclui calor extremo, secas intensas, escassez de água, grandes incêndios, aumento do nível do mar, inundações, derretimento do gelo polar e mais tempestades.
Entre outras coisas, as mudanças climáticas também comprometem espécies e ecossistemas inteiros, reduzindo a biodiversidade, facilitam a propagação de doenças, prejudicam diretamente comunidades rurais e indígenas, colocam em risco a produção agrícola e a segurança alimentar, eleva o preço dos alimentos.
Essas duras consequências atingem principalmente os mais vulneráveis, aprofundando ainda mais as desigualdades sociais. Estima-se que, apenas ao longo da próxima década, a crise climática vai colocar entre 32 milhões e 132 milhões de pessoas na pobreza extrema.
Muitos efeitos já são irreversíveis, mas ainda existe uma pequena janela de tempo para que os piores impactos climáticos sejam evitados, segundo os pesquisadores. Para isso, será preciso conter o aumento da temperatura terrestre a não mais que 1,5 °C, em comparação aos níveis da era pré-industrial.
O objetivo requer uma redução drástica das emissões globais de carbono, principal GEE: 45% a menos até 2030, em relação ao patamar de 2010, e emissões zero líquidas (o que se emite é o mesmo que se retira da atmosfera, zerando o balanço) até 2050. Caso contrário, a trajetória atual das emissões levaria a um aquecimento de até 4,4 °C antes do fim do século.
Depois de décadas de debate, mas pouca ação, em 2015, a 21ª Conferência do Clima da ONU (COP21), em Paris, enfim costurou um pacto global para enfrentar de fato as mudanças climáticas. Ali nasceu o Acordo de Paris, com planos para lidar com a questão de forma urgente, transparente e coordenada.
A grande inovação do tratado foi a apresentação das contribuições de cada país signatário para frear o aquecimento do planeta, as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, na sigla em inglês), com atualizações voluntárias a cada 5 anos, a fim de ampliar suas ambições.
As estratégias incluem principalmente esforços para abandonar o consumo de combustíveis fósseis, com a transição da matriz energética para fontes limpas e renováveis.
Mas também envolve ações no sentido de eliminar o desmatamento, restaurar ecossistemas, adotar tecnologias limpas nas indústrias, estimular novos modelos de negócio e padrões de consumo, repensar o uso dos recursos naturais, entre outras, além de criar mecanismos de adaptação para lidar com os danos já causados.
Está claro o que precisa ser feito. A questão é como colocar tudo isso em prática em tão pouco tempo. É preciso mais comprometimento, porque o que foi realizado até agora é insuficiente e num ritmo bem abaixo do necessário, dizem os especialistas.
E ainda: como financiar essa complexa transformação nos países menos desenvolvidos, um desafio coletivo ainda pendente de solução. A ação climática requer enormes investimentos financeiros por parte de governos e empresas, mas a conta vai sair muito mais cara se nada for feito, e agora.