Seu Jorge e Wagner Moura: atores estão presentes em filme que conta a vida do guerrilheiro (Ariela Bueno/Divulgação)
EFE
Publicado em 20 de agosto de 2019 às 17h26.
Última atualização em 20 de agosto de 2019 às 17h26.
Santiago — Depois de ver "Marighella" abrir a 15º Festival Internacional de Cinema de Santiago (Sanfic), o ator e diretor Wagner Moura concedeu entrevista coletiva nesta segunda-feira no Chile e disse que no Brasil há uma "guerra de narrativas" sobre a ditadura que governou o país entre 1964 e 1985.
Para o ator, que estreia na direção com "Marighella", há aqueles que querem contar o que ocorreu durante os anos de regime de exceção no Brasil, caso do próprio autor ao contar no filme o caso do escritor, político e guerrilheiro Carlos Marighella, e os que querem negar os fatos ocorridos sob o governo militar, caso do presidente Jair Bolsonaro.
"No Brasil há uma guerra de narrativas. Temos um presidente que diz que a ditadura não existiu, que a ditadura foi boa, que a tortura é um método possível para obter informação. Acredito que é muito importante contar histórias para que as pessoas vejam que, sim, houve uma ditadura e que ela foi terrível", afirmou Moura.
O ator disse que o filme está no polo oposto ao negacionismo da ditadura promovido por Bolsonaro, mas que não gravou "Marighella" para confrontar o atual governo. Segundo ele, o filme começou a ser concebido em 2013, quando Dilma Rousseff ainda era presidente do país. A ideia era "contar uma história que foi apagada do passado".
"Eu queria falar da ditadura militar e da resistência. O filme vai de 1964, com o golpe de Estado, a 1969, quando matam Marighella. O desafio para mim foi ter uma história emocional, que ao mesmo tempo falasse de muitos fatos históricos que ocorreram nesses cinco anos", explicou o também diretor.
Moura também disse que gosta de abordar temas políticos e que filmes do tipo não precisam ser necessariamente complicados, destinados a um grupo seleto de espectadores.
"'Marighella' é uma mistura de gêneros. É um drama histórico, mas tem muitas coisas do cinema de ação (...). Me interesso que o cinema político seja popular", destacou.
Sobre a exibição do filme na abertura da 15ª edição do Sanfic, o ator destacou que a recepção do público foi muito emocionante, destacando o fato de os chilenos "sabem muito bem o que é uma ditadura militar".
O diretor de "Marighella" também falou sobre as dificuldades para lançar o filme no Brasil. Para que a estreia fosse confirmada para 20 de novembro, quando o país celebra o Dia da Consciência Negra, Moura disse ter superado "todos os tipos de boicotes".
Considerando o clima de polarização vivido no Brasil, o ator disse estar preparado para enfrentar possíveis incidentes na estreia do filme no país, como tentativas de impedir a exibição.
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