Passeio a cavalo na Estância San Pablo: visita aos vinhedos e hospedagem. (Lucas Attori/Grupo Zuccardi/Divulgação)
Repórter de Agro
Publicado em 29 de maio de 2023 às 15h01.
Um bom vinho conta a história de onde as uvas foram produzidas. Mas e se for possível viver uma experiência imersiva, com vista para os vinhedos? E ainda degustar empanadas fresquinhas, mix de legumes e cogumelos cozidos em forno a lenha e um churrasco feito na fogueira? Essa é a proposta do enoturismo em Mendoza, na Argentina. Mais especificamente na Estância San Pablo, em Tupungato, no Valle de Uco.
Do alto da colina, em meio a um passeio a cavalo, a possibilidade de contemplar o vinhedo, a casa principal da estância e o riacho que corre com a água de degelo da Cordilheira dos Andes. Quem guia os visitantes entre as montanhas e os vinhedos é Walter Scibilia. O gaúcho de bombacha, cachimbo e lenço no pescoço, conta que estudou um pouco de agronomia e sobre o cultivo das uvas. Então, inspirado no turismo rural da França, há 20 anos ele recebe pequenos grupos que podem se hospedar em um dos cinco quartos disponíveis aos turistas. “Um local para mostrar a história de uma família simples, do campo, que aprendeu a viver na natureza. Por isso a essência é receber os turistas como se fossem da família, com uma boa taça de vinho em frente à lareira”, diz.
Produzido localmente, a 1.700 metros acima do nível do mar, o vinho oferecido aos visitantes leva o nome de “Um Lugar nos Andes”, resultado de uma parceria entre Scibilia e Sebastián Zuccardi, viticultor e diretor da vinícola Zuccardi, vencedora por três anos consecutivos do The World’s Best Vineyards, entre 2019 e 2021, que aponta a melhor vinícola do mundo. No Brasil, a Zuccardi é distribuída exclusivamente pela Grand Cru. Com aromas florais e a intensidade encontrada em locais de altitude, a uva local desenvolve sabores sob a influência da montanha, da amplitude térmica e das ervas naturais que compõem o ambiente.
Os produtos que são servidos durante a estadia, com exceção dos vinhos, não são vendidos. Um dos exemplos é a compota de pêssego, cujos processos de colheita, manufatura e envasamento são todos feitos na estância. “São pêssegos frescos e ecológicos, sem conservantes, para proporcionar o genuíno sabor da fruta no campo. Todos os produtos aqui são nosso estilo de vida, então compartilhamos com quem vem passar alguns dias conosco”, diz Scibilia.
Degustação, hospedagem, cavalgada e todas as refeições saem entre 200 e 250 dólares por noite. As garrafas de Pinot Noir e Malbec, produzidas em pequenos lotes de 1.200 unidades, podem ser degustadas ao longo da hospedagem sem custo adicional e levadas para casa pelo valor médio de 190 dólares. Mas é importante se planejar, pois a vivência quase singular na Estância San Pablo fica suspensa durante os três meses de inverno.
Aos amantes do vinho que estiverem na região do Valle de Uco, outra parada no roteiro é o restaurante Piedra Infinita, também da família Zuccardi. Entusiasta do enoturismo, Zuccardi conta que abriu as portas ao público externo em março de 2016, a fim de compartilhar com os visitantes a forma como a riqueza geográfica faz parte de cada uva colhida e, posteriormente, engarrafada. Localizado em Paraje Altamira, o restaurante valoriza ingredientes locais e se torna um ambiente aconchegante para degustar boa comida e bons vinhos, além de conhecer a produção de azeites da Zuccardi. Nesse cenário de montanha e vinhedos, é possível desfrutar um menu de quatro passos harmonizado com vinhos da casa.
Àqueles que desejam mergulhar ainda mais no processo de produção da bebida é possível agendar uma visita guiada aos vinhedos e à adega, planejada para ser o eixo central que conecta as áreas operacionais. No subsolo, a cave circular guarda preciosas garrafas ao entorno de uma pedra gigante, no meio da adega, simbolizando a formação geológica dos solos com muitas pedras, rochas e calcário. É a imagem literal da pedra infinita.
Os tanques de vinho em concreto e madeira também podem ser vistos de perto. “O concreto possibilita que o vinho seja transparente, ou seja, não aporte nem aroma nem sabor externo, sendo fiel ao sabor da uva”, explica Zuccardi durante o tour. O processo de vinificação em concreto também faz com que as variações de temperatura externa não interfiram na bebida, assim como há menos interferência do oxigênio em comparação ao processo feito na madeira.
Mendoza é responsável por 70% dos vinhos produzidos na Argentina, que saem dos 150.000 hectares de vinhedos. De acordo com a Secretaria de Turismo de Mendoza, a indústria vinícola gera 50% das exportações totais da província e 80% das exportações de vinhos do país. Ao todo, a cidade conta com 800 vinícolas em atividade, sendo 150 delas abertas ao visitante. O aeroporto local recebe voos diários de São Paulo. Com tantas opções entre rótulos, gastronomia e paisagens, quando for à Argentina, deixe o vinho ser o seu guia.
A repórter viajou a convite da Grand Cru.