Psychedelic Pill, petardo duplo com 88 minutos, é o primeiro disco em nove anos com a lendária Crazy Horse (Getty Images/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 31 de outubro de 2012 às 12h33.
São Paulo - É preciso um bocado de poeira de estrada para começar tudo com uma extensa jam session de 27 minutos e meio. Também não é uma marca nada comum beirar os 67 anos e estar com pique suficiente para recorrer aos velhos amigos e desfilar por aí empunhando uma guitarra.
Adicione a isso o lançamento de dois álbuns – sendo um de inéditas – e uma extensa autobiografia de 404 páginas. Tudo num espaço de rasos seis meses. Dados bastante fora do comum, convenhamos. Exatamente como faz questão de ser o roqueiro canadense Neil Young.
Psychedelic Pill, petardo duplo com 88 minutos com lançamento oficial realizado nesta terça-feira (30), é o primeiro disco em nove anos com a lendária Crazy Horse. Parceiros de longa data com extensa lista de bons serviços prestados – basta lembrar dos setentistas Everybody Knows This Is Nowhere, Tonight’s the Night e Zuma -, Billy Talbot, Ralph Molina e Frank Poncho Sampedro foram escalados para uma batalha em favor da música. Não se deixe enganar: psicodelia por aqui é apenas uma referência aos malucos anos 60.
A escolha por deixar tudo mais difícil parece ser milimetricamente pensada. Driftin’ Back, a já citada epopeia de quase meia hora, foi feita para ser o carro-chefe da campanha contra a baixa qualidade dos arquivos MP3 e do declínio nas vendas de meio físicos das obras. Tudo intercalado com pequenas pausas para te dizer que a qualidade do que se ouve hoje em dia é apenas 5% do que deveria. A solução para isso? A PureTone, engenhoca que possibilitaria a troca de arquivos com qualidade de um disco de vinil, como explica o músico em seu livro.
Old Black, a famosa Gibson Les Paul Goldtop fabricada em 1953, sintetiza tudo que Young quer dizer. Como nos bons tempos, aqui a guitarra de estimação é levada ao limite – ouça do que ela é capaz na dupla Ramada Inn e Walk Like A Giant, ambas com espantosos 16 minutos de duração. Há espaço também para pegar carona em trechos autobiográficos, reflexo de desempacotar o passado cheio de suas histórias de brinquedos ferroviários e carrões Buick e Cadillac.
Twisted Road serve para prestar homenagem aos heróis Hank Williams, Bob Dylan, Roy Orbison e ao Grateful Dead (listening to the Dead on the radio). Há espaço ainda para falar – e não explicar nada, como de costume – da infância vivida na simplória Omemee e seus 750 habitantes na canção Born In Ontario.
Em sua mais recente tentativa de se adaptar aos novos acontecimentos, Neil foi ao Twitter conversar e chamar a atenção para o lançamento de Psychedelic Pill, que teve audição liberada em sua página oficial há uma semana. Um fã decidiu perguntar sobre o que Neil achava do Foster The People, uma das bandas convidadas pelo Bridge School Benefit Concert, evento beneficente anual organizado pelo compositor e sua esposa, Pegi. O questionamento surgiu porque que Bono Vox disse aprovar a atração um tanto quanto duvidosa. Who is Bono? (Quem é Bono?), surgiu como resposta.
Brincadeira ou não, a tirada ficou registrada como um dos grandes sucessos da rede de microblogs nos últimos tempos. Mais uma prova de que o compositor vive num período paralelo da história e parece se orgulhar disso. É tudo na lata, na cara. O 37º álbum de estúdio da carreira dá a ele a credencial do altar do rock. Mas a alma pagã, provocação feita durante uma das novas trilhas, não o deixa chegar lá. Ou pode ser que ele prefira caminhar livremente com os gigantes. Assobiando entre solos distorcidos.