SALÃO DO BAR LÉO, EM SÃO PAULO: agora com uma filial em plena Rua do Ouvidor, no centro do Rio / Mário Rodrigues
Da Redação
Publicado em 31 de março de 2018 às 07h58.
Última atualização em 31 de março de 2018 às 12h25.
Em 2012 tudo indicava que um dos bares mais tradicionais e antigos de São Paulo, conhecido por servir um dos melhores chopes da cidade, estava a um passo de fechar definitivamente ou, no mínimo, de perder sua credibilidade para sempre. Fiscais haviam descoberto que o então aclamado chope não só não era mais o mesmo, como não era da marca anunciada e sim de uma com a qualidade muito inferior, vendida pelo mesmo preço. Interditado pela Vigilância Sanitária, o bar virou caso de polícia: descobriu-se que um gerente havia sido o responsável pela adulteração.
Quatro meses depois, o Bar Léo, fundado em 1940, foi inaugurado novamente no mesmo lugar, na Rua Aurora, no centro de São Paulo, arrendado pelos sócios do Fábrica de Bares, experimentado grupo responsável por operar e administrar outros bares famosos da cidade, como o Brahma e o José Menino. A tarefa era espinhosa: recuperar o prestígio do botequim em meio à crise financeira do país, numa região famosa pela degradação urbana, agravada com o aumento de usuários de crack.
O que se deu a partir de agosto de 2012 contrariou até a previsão do mais otimista dos sócios. Primeiro, a clientela não só voltou imediatamente após a reinauguração, como aumentou 20% nos primeiros meses, atraindo antigos fregueses que não iam mais ao bar, mas que passaram a frequentá-lo, numa espécie de movimento de resistência. Era como se uma horda de saudosistas não aceitasse a ideia de ver um bar tão tradicional e identificado com a história da cidade transformado num embuste por causa de um gerente mal-intencionado.
A volta foi tão bem-sucedida que pela primeira vez se cogitou em expandir a operação para outras regiões de São Paulo. Mais do que isso: era a hora do chope com o melhor colarinho de São Paulo entrar num território conhecido também por oferecer chope de qualidade em cada esquina: o Rio de Janeiro.
Depois de inaugurar duas filiais, uma na Casa Verde e outra na Vila Madalena, com relativo sucesso, decidiu-se por um passo mais ousado: uma filial em plena Rua do Ouvidor, no centro do Rio, famosa por abrigar botecos centenários, com grande apreço pela tradição e resistência a modismos. Talvez daí o sucesso momentâneo do Bar Léo, que também não faz concessões. Foi inaugurado em pleno Carnaval. “Como se sabe, no Bar Léo não servimos chope sem colarinho. É uma imposição da casa, que em São Paulo já virou uma marca, um charme até, mas que no Rio não sabíamos qual seria a reação dos clientes”, afirma Caire Aoas, um dos sócios da Fábrica de Bares. Não houve reclamação. Pelo contrário. “A gente está num lugar da cidade onde as pessoas têm apreço pelo chope bem tirado. Foi ótimo sentir essa recepção numa prova de fogo, em pleno Carnaval. Passamos no teste”, afirma Aoas.
A Fábrica de Bares não divulga os números do investimento no Rio, mas espera que a filial carioca mantenha a média de venda de chope das outras unidades de São Paulo. As três filiais paulistanas, do Centro, da Casa Verde e da Vila Madalena vendem 20.000 litros de chope por mês. “Estamos esperando para ter números mais consolidados. Está cedo ainda para fazer projeções, mas não descartamos a hipótese de aumentar a nossa operação no Rio e em outras cidades brasileiras”, afirma o empresário.
A recuperação do Bar Léo, que terminou no seu processo de expansão, não se deve apenas à sua história e tradição. Caire Aoas relembra que uma das primeiras decisões de sua empresa foi manter, com exceção do gerente, a equipe inteira, inclusive o garçom mais antigo da casa, Seu Luís — que morreu no início de fevereiro após 55 anos de expediente no bar. Depois, o grupo convocou 50 clientes para uma conversa informal, franca, para saber deles o que era preciso ser mudado. “Eles pediram pelo ‘amor de Deus” para a gente não tocar na chopeira e em mais nada”, lembra o empresário. Foi feita apenas uma pequena intervenção, que resultou na expansão do salão principal. “Acho que se a gente, na ansiedade em recuperar o prestígio do bar, tivesse mudado tudo, o bar começaria a morrer ali e hoje os cariocas não estariam tomando chope com mais colarinho”, brinca Aoas.