Diretor Barmak Akram e o elenco do filme do filme Wajma durante a premiação do Sundance Film Festival em janeiro deste ano (Michael Loccisano/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 8 de novembro de 2013 às 21h25.
Manaus - As tensões entre tradição e modernidade que começam a abrir fendas de liberdade na sociedade afegã são o cenário do filme "Wajma", do diretor Barmak Akram, o primeiro feito totalmente por cidadãos desse país desde a guerra iniciada em 2001.
"Espero pôr a primeira semente e que a sociedade evolua em direção a algo positivo", assegurou Akram à Agência Efe durante uma entrevista concedida após a exibição de seu filme no Festival de Cinema do Amazonas realizado nesta semana em Manaus e no qual seu trabalho obteve menção especial do júri.
O filme, que narra a história de uma mulher afegã que fica grávida antes do casamento, mostra o problema social que ainda hoje pode ser produzido por questões de honra em uma sociedade na qual, segundo Akram, "a lei permanece muda" diante de uma situação que costuma terminar com a morte da mulher.
A história transpassa a tela e afeta diretamente os atores que a protagonizam, já que o mais difícil da produção, segundo o diretor, foi encontrar uma jovem que aceitasse interpretar a protagonista.
"Quando uma mulher se expõe assim na tela ela pode ser considerada uma má companhia. Poderia acontecer dela não encontrar nunca um marido", assegura Akram.
O ponto de partida, que serviu como inspiração para Akram, foi uma visita a um hospital da cidade afegã de Herat, a terceira mais populosa do Afeganistão, no qual o diretor se deparou com 260 casos de mulheres que atearam fogo em seu próprio corpo.
"Intrigado, fui tentar entender porque tentavam se matar e me dei conta que a maior parte dos casos era por conta de casamentos forçados", explicou.
É nesses casos onde Akram observa "o maior confronto na sociedade moderna" do Afeganistão, porque, segundo lembra, nas comunidades mais tradicionais, as mulheres não têm acesso à educação, algo que pouco a pouco está mudando e, como a protagonista do filme, começam a entrar na universidade, onde compartilham o espaço com homens.
Além disso, afirmou que agora a sociedade afegã deu um grande passo para a modernidade impulsionada fundamentalmente pelas novas tecnologias, mas, ao mesmo tempo, os mais conservadores "a empurram para trás".
No entanto, ele não queria fazer um filme sobre o Afeganistão, já que seu objetivo final era enviar uma mensagem com um tema mais universal.
"Queria fazer um filme autêntico, no qual o público ocidental pudesse se reconhecer. Na Europa e nos Estados Unidos a religião está muito presente e as situações vividas pela protagonista podem existir em qualquer outro país", explicou.
Durante as filmagens, Akram teve que enfrentar inúmeras dificuldades, além de lutar para conseguir um elenco 100% afegão, teve que esconder o roteiro das autoridades, pois segundo ele, se soubessem do conteúdo da história não o teriam autorizado filmar. Por isso, teve que se desdobrar em diretor, roteirista e responsável por som, gravação, trilha sonora e edição.
Além disso, teve que investir muito do seu próprio dinheiro no filme para conseguir com que o projeto tivesse impacto tanto no Afeganistão quando no exterior. "É o momento oportuno para que o público afegão faça uma reflexão sobre a condição da mulher e observem que é estúpido matar por questões como esta", resume.
Para o autor, o filme vem para "mudar a mentalidade não só no Afeganistão, mas no mundo".