Camiseta do Corinthians pendurada em frente ao Itaquerão (Friedemann Vogel/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de julho de 2014 às 08h06.
São Paulo - Para muitos torcedores fanáticos de clubes, a derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo nem doeu. "Meu ídolo não é o Neymar, é o Rogério Ceni. Dia 15 já tem jogo do São Paulo contra o Bahia, é nisso que eu estou pensando agora", resumiu Decio Sobrinho, que foi assistir nesta quarta-feira ao jogo entre Argentina e Holanda no centro de São Paulo junto com outros amigos são-paulinos. Todos estavam devidamente uniformizados.
Andando pelas ruas do centro parecia mesmo que o torcedor já tinha aposentado a camisa da seleção. William Silva gritava "vai, Corinthians" quando algum torcedor argentino com a camisa do Boca Juniors passava pelo Teatro Municipal.
"Eu nem ligo do sarro da seleção. Para mim o que importa é que nós ganhamos uma Libertadores em cima do Boca Juniors. Não troco isso nem por outros cinco mundiais da seleção", afirmou.
Com jaqueta do Palmeiras, Cleyton Nascimento diz que só pensa agora na abertura da nova arena do clube, prevista para o mês que vem. "Quando eu lembro do estádio que nós vamos ter já esqueço da derrota de ontem (terça). Nossa arena será a mais moderna do mundo e a abertura deve ser contra a Juventus, da Itália. Isso, sim, é jogo com emoção", afirmou o palmeirense.
Mesmo dentro do Itaquerão, a Arena Corinthians, várias camisas canarinho foram substituídas por símbolos dos clubes do País inteiro. Em outros bairros da cidade, os torcedores também eram avistados, embora com menos frequência. Caminhando em uma rua da Lapa, na zona oeste, o professor Alessandro Corrêa vestia uma camisa vermelha e um casaco do São Paulo.
"Tem uma diferença muito grande entre seleção e time. Seleção é a representação do País, o orgulho de vestir a camisa. O time é uma relação semanal, uma paixão pura, que vem desde o berço", filosofou Corrêa, que afirmou ter vestido a camisa do Brasil nos dias de jogos.
Henrique Reis, empresário que acompanhava o amigo são-paulino, disse que só não estava com a camisa do Atlético Mineiro porque está na capital paulista de visita.
"É uma paixão que passa de pai para filho, a de um clube. Eu já comprei minha camiseta da Holanda para torcer contra a Argentina hoje (quarta), mas nunca faria isso com outro time. Por isso que alguém que muda de time vira alvo de piadas para o resto da vida, porque não se muda", analisou.
Sem camisa de time mas já pensando no Campeonato Brasileiro, o agente comercial Jairo André Brauer perambulava com o filho pequeno atrás de pessoas para trocar figurinhas do álbum da Copa do Mundo, na frente do estádio do Pacaembu.
"Ele (o filho) chorou com o resultado do jogo, mas agora já esqueceu. Focou no álbum. E, a partir de agora, é Corinthians na cabeça", determinou, deixando a tristeza e a decepção para trás.
Os vendedores ambulantes que ficam no estádio, apesar da derrota brasileira, mantiveram os preços das camisas do Brasil (entre R$ 20 e R$ 40) e conseguiram emplacar a venda de algumas - mas só para estrangeiros. "Os turistas compram para levar de lembrança", explicou o vendedor Fernando Caldas Cavalcante.
"Hoje (quarta), as vendas estão menores, mas é como aconteceu no dia seguinte à derrota de todas as outras seleções", disse. Segundo ele, de 15 a 20 camisas são vendidas por dia, e ontem seis já haviam sido compradas pela manhã.
Uma dupla de mexicanos também acabou levando mais duas, além de uma bandeira do Corinthians. "É um time que admiro. Vou levar comigo", disse Jorge Rodriguez, contador público de 50 anos.
PÁTRIA AMADA - A dor da derrota também não atingiu a aposentada Rose Meire Feragi, de 58 anos, que exibia com orgulho a camisa do Brasil. "Os meninos que perderam são muito jovens, não merecem ser tão criticados. Vou com o Brasil até o fim da Copa, na alegria ou na tristeza", ressaltou.
Rose é moradora do condomínio Parque dos Pássaros, na Freguesia do Ó, zona norte, famoso por estender há cinco Mundiais uma bandeira gigante, de 60m por 20m.
O zelador Aílton Felizardo Lima também defendeu a seleção. "Temos ainda mais uma bandeira, no outro bloco, que rasgou. Mandamos arrumar e vamos voltar a estendê-la na sexta, antes da disputa pelo terceiro e quarto lugares. Foi triste, mas futebol é o melhor esporte".