Nicoll Davis e seu marido, Jake, com seus três cães em Sedona, Arizona, 8 de fevereiro de 2021. Eles agora se sentem presos no trailer de carga, embora tenha sido a casa de seus sonhos. "Quando a pandemia começou, nossa minúscula casa começou a parecer muito menor", disse ela. (John Burcham)
Julia Storch
Publicado em 20 de fevereiro de 2021 às 06h12.
Foi preciso uma pandemia para transformar a residência de 10,4 metros quadrados de Nicoll Davis de casa dos sonhos em uma cela de prisão. Davis, de 28 anos, tinha vivido em tempo integral e viajado em seu trailer com o marido, Jake, e seus três cães por cerca de um ano, desfrutando dos luxos da vida em um lar minúsculo: uma casa que pode ir a qualquer lugar e a liberdade financeira para fazer o que se quer. E então o coronavírus chegou.
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"Quando a pandemia começou, nossa pequena casa começou a parecer muito menor. Você se sente preso", disse Davis, que trabalha com pequenas empresas para gerar negócios por meio de seus sites, além de oferecer ajuda de marketing. Ela também administra um blog com o marido.
Quase um ano de permanência entre quatro paredes pode causar estragos na saúde mental de qualquer um. Mas aqueles que vivem nas cobiçadas casas minúsculas que ganharam popularidade há cerca de uma década – projetadas para eliminar dívidas, restrições e outras limitações – enfrentaram alguns problemas significativos. Eles não conseguem armazenar grandes quantidades de alimentos, papel higiênico e outras necessidades geradas pela pandemia, estão presos em espaços muito pequenos, e muitos dos que dependiam do chuveiro da academia perderam acesso a ele por causa dos bloqueios. Além disso, quando os parques públicos e os acampamentos fecharam ou limitaram o número de visitantes, muitas casas minúsculas perderam seus domínios.
Apesar dessas questões, 2020 provavelmente será um ano recorde dessas casas, de acordo com o relatório Global Tiny Homes Market 2020. Seus construtores e vendedores revelaram que as vendas têm sido acima da média durante a pandemia. O relatório estima que o mercado poderá aumentar em US$ 5,8 bilhões entre 2020 e 2024.
Cinquenta e seis por cento dos americanos afirmaram que viveriam em uma casa pequena, de acordo com uma pesquisa realizada no fim de 2020 pelo IPX 1031. Mas esse tipo de imóvel vendeu bem no ano passado, principalmente porque muita gente queria usá-lo como espaço extra de trabalho ou estudo, enquanto continuava vivendo em uma casa comum.
Em 2019, a EcoSmart Builders, sediada no sul da Califórnia, teve um aumento de 101 por cento nas vendas de suas unidades de moradia acessórias, o nome oficial de suas casas minúsculas. Em 2020, a empresa encerrou o ano com um crescimento de 177 por cento nas vendas.
"Independentemente de funcionarem como residência para hóspedes, sala de entretenimento ou home office, elas são uma ótima opção, pois as famílias estão passando mais tempo juntas em casa devido à pandemia", observou Freddie Zamani, executivo-chefe da EcoSmart Builders.
Mas aqueles que moram exclusivamente nesse tipo de residência – talvez porque tenham perdido sua renda e precisaram reduzir gastos – estão enfrentando alguns grandes desafios.
Segundo Davis, inicialmente ela se sentia segura e protegida em seu pequeno espaço. Ela e o marido estavam no Cosmic Campground entre outros campistas na Floresta Nacional de Gila, no oeste do Novo México, quando, em um dia em março de 2020, um guarda florestal anunciou que os acampamentos seriam fechados. Eles tinham 60 minutos para arrumar as malas e encontrar um novo lugar para ficar.
Davis levou seu trailer para um local diferente na Floresta Nacional, mas seus problemas não terminaram. Ela teve sorte porque, embora não tivesse acesso à água ou energia, podia usar energia solar e um gerador.
Mas, como só tem uma minigeladeira e espaço de armazenamento mínimo para outros itens, era preciso fazer visitas frequentes ao supermercado – apesar das ordens de permanecer em casa. "Os supermercados estavam desabastecidos a maior parte do tempo, e era difícil conseguir aquilo de que precisávamos, incluindo papel higiênico. Foi uma luta", contou ela.
A pequena casa de Keri Gailloux – um ônibus escolar convertido – também está aposentada agora, graças à pandemia. Gailloux, de 68 anos, morava e trabalhava em San Francisco, sendo responsável por um programa de treinamento sobre hepatite C para clínicos gerais. Porém, depois da aposentadoria, ela converteu um ônibus escolar, que batizou de Skoolie, em uma casa móvel para que pudesse viajar. Seis meses antes da pandemia, ela pegou a estrada. "Era para ser minha casa para sempre", disse Gailloux. O destino, entretanto, não quis assim.
Ela havia planejado ficar no Mustang Island State Park, em Corpus Christi, no Texas, à beira do Golfo do México, até que a curva do coronavírus fosse achatada, mas, na manhã seguinte à sua chegada, um guarda lhe informou que o parque fecharia. Gailloux precisava de um local que oferecesse conexões completas, já que não possuía um gerador portátil nem fundos para comprar um, que não sai por menos de US$ 1.000. "Levei meu cachorro para passear na beira do golfo, entrei na água e chorei. Foi realmente um dos meus piores momentos", afirmou Gailloux.
Ela convenceu o guarda a deixá-la ficar por mais alguns dias, mas, pouco depois, o governador do Texas, Greg Abbott, fechou todos os acampamentos e terras públicas no Texas. Então, a pequena casa de Gailloux quebrou e teve de ser rebocada.
Agora, seu amado ônibus está guardado, sem os pertences pessoais da dona, e está à venda. Uma vez vendido, ela planeja pagar as dívidas que acumulou enquanto estava na estrada. Atualmente, mora com a mãe de uma amiga em Long Beach, na Califórnia, e cuida dela. Em uma casa grande. "Espero voltar para a estrada no futuro de outra forma, mas, por enquanto, este é um bom lugar", comentou Gailloux.