Max posa ao lado de um prato feito pelo seu dono: aficionados por gastronomia e amantes da raça Corgi são dois dos maiores públicos da rede social (Brian X. Chen/The New York Times)
Marília Almeida
Publicado em 27 de dezembro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 27 de dezembro de 2018 às 06h00.
No semestre passado, comecei uma conta no Instagram que mostrava meu cão, Max, tentando comer minhas refeições caseiras. Eu tinha certeza de que seria uma sensação.
Aficionados por gastronomia e amantes da raça Corgi, afinal, são dois dos maiores públicos no site de compartilhamento de fotos. Combinar os dois, disse eu brincando aos meus colegas, seria minha passagem para a aposentadoria antecipada (ou, no mínimo, ração de graça).
Fiz tudo direitinho. Li os conselhos postados por donos de cães famosos na internet e especialistas em redes sociais: encontre uma característica que chame a atenção, publique suas fotos em horários estratégicos, crie legendas engraçadas e envolva-se com seu público. Cheguei até a convidar um fotógrafo profissional para uma consulta.
No entanto, cerca de quatro meses e 70 posts mais tarde, @cookingwithfatmax está longe do estrelato. Apesar de Max estar lindo e meus pães parecerem fofos nas fotos, a conta estagnou em cerca de 300 seguidores. As curtidas não passavam de uma média de 60 por postagem. Nenhuma oferta de patrocínio apareceu na minha caixa de entrada.
Então, comecei a ler alguns blogs obscuros de marketing que sugeriram um caminho mais simples: comprar alguns bots, também conhecidos como falsos seguidores, para fazer a conta parecer mais atraente para as pessoas reais e ajudar a expandir a audiência. Comprei 2.500 bots e esperei que as curtidas aumentassem e que o público crescesse.
Para minha surpresa, Max tornou-se ainda menos popular. Seu número de seguidores diminuiu, talvez porque o Instagram tenha eliminado muitas das contas falsas. O número médio de curtidas caiu para 45.
Consultei a Ahalogy, uma empresa de marketing de tecnologia em Cincinnati, para saber o que estava acontecendo.
"Você simplesmente não pode ser um sucesso do dia para a noite. Esse é um trabalho real que exige muita dedicação. Continue com vários posts por dia, várias ideias e trabalhe nos relacionamentos", disse Bob Gilbreath, seu executivo-chefe.
Acima de tudo, disse ele, "não pegue atalhos".
No fim, o experimento deu menos frutos do que minhas façanhas passadas, como alugar um Airbnb ou comprar criptomoedas. Tornar-se um influenciador no Instagram era mais desafiador do que eu imaginava. Aqui está o que aprendi.
– O Instagram é brutalmente competitivo.
Uma dica repetida em muitos blogs de marketing do Instagram era ser notado por influenciadores, ou contas que já eram populares, na esperança de que eles divulgassem meu cãozinho obcecado por comida.
Então, sempre que eu tinha a oportunidade, buscava influenciadores. Quando meu parceiro e eu preparamos receitas de gourmets conhecidos, como Maangchi, a estrela excêntrica do YouTube que é famosa por seu programa de culinária coreana, demos os créditos nas legendas.
Maangchi acabou escrevendo um comentário em uma foto de Max com uma pata descansando ao lado de uma tigela de kimchi: "Cãozinho lindo! Parece muito inteligente!" Mas isso não ajudou muito na popularidade de Max.
Será que as fotos não eram boas o suficiente? Convidei um fotógrafo profissional, RC Rivera, para uma avaliação. Seu conselho: tente fotografar o cachorro e os pratos com ângulos criativos e trabalhe mais na pós-produção. Além disso, use auxílios visuais como adereços e roupas de cachorro. Como último recurso, considere comprar uma câmera extravagante, como uma DSLR, ou contrate um agente de mídia social especializado em influenciadores com cães, disse ele.
E foi isso que fiz. Comecei a incorporar um travesseiro em forma de abacate como um adereço e a fotografar Max e os alimentos de diferentes ângulos. Não contratei um agente nem comprei uma câmera profissional, principalmente porque sou pão-duro, mas melhorei minha iluminação com luz profissional, que custou US$ 15.
Mesmo assim, os seguidores não aumentaram.
– Bots podem ser um tiro no pé.
Outra dica que surgiu com frequência era comprar seguidores falsos. A premissa: o único bom momento para comprar seguidores é quando você é pequeno e está começando, porque as contas com um número médio de seguidores parecem mais atraentes e, portanto, conquistam mais pessoas.
Em outras palavras, todos gostam de conformidade.
Isso fazia sentido para mim, então enviei US$ 19 via PayPal para o Social10X, um site que oferece serviços para melhorar sua presença nas redes sociais, e comprei um pacote de 2.500 seguidores. Os seguidores da conta de Max cresceram rapidamente, uma experiência tão estranha quanto satisfatória. Visitei alguns dos perfis dos seguidores. Muitos deles pareciam pessoas reais.
Os seguidores de Max finalmente saltaram de 300 para cerca de três mil. Mas o número médio de curtidas caiu. Os bots não curtiam meus posts – se você quiser curtidas artificiais, tem de pagar extra por um pacote separado.
A Social10X não respondeu a um pedido de comentário.
Gilbreath, da Ahalogy, que ajuda marcas a atrair influenciadores com seguidores falsos, disse que, em geral, os bots trabalham de duas maneiras: alguns são contas falsas que copiaram todo o conteúdo de perfis de pessoas reais, e outros são pessoas reais que fazem parte de um programa de troca de seguidores, em que concordam em seguir alguém em troca de ser seguidas.
Comprar seguidores é contra as diretrizes da comunidade do Instagram. Em novembro, a empresa anunciou que removeria a atividade gerada por terceiros, que inflavam o engajamento, incluindo curtidas e seguidores. O Instagram disse em uma declaração que bloqueia milhões de contas falsas no momento do registro todos os dias.
"A atividade fraudulenta é ruim para todos no Instagram", disse a empresa, que é propriedade do Facebook. "Temos um forte incentivo para evitar que as pessoas espalhem spam e conteúdo de baixa qualidade."
– Você não pode fazer as pessoas te amarem.
Uma maneira legítima de atrair seguidores é ser exposto a um grande público. Um método básico é o uso de hashtags, como #cutedog. Se as pessoas buscam a hashtag #cutedog, podem chegar a um vídeo em câmera lenta de Max comendo um pedaço de peru de Ação de Graças.
Outra maneira de alcançar novos públicos é pagar por um anúncio no Instagram. Em um post, você pode clicar no botão promover e, em seguida, selecionar uma audiência e o número de dias que você deseja que o anúncio seja transmitido.
Tentei as duas abordagens. Experimentei com dezenas de hashtags, incluindo as mais populares como #chinesefood, #dogsofinstagram e #yummy, além de outras menos populares como #californiadog, #beefy e #meatsweats. Mas isso não ajudou muito.
Também paguei US$ 24 por uma semana de promoção de Max sorrindo ao lado de uma tigela de massa com tinta de lula. A foto chegou a 5.165 pessoas, mas a campanha ganhou apenas 11 novos seguidores para a conta. No fim das contas, paguei cerca de US$ 2 por seguidor.
Gilbreath compartilhou o perfil de Max no Instagram com membros de sua equipe de marketing na Ahalogy. Eles foram duros.
"Achamos que a ideia de misturar cão e comida é confusa e, provavelmente, divide o público de uma forma que você não quer. Os amantes de animais não iriam gostar do conteúdo das receitas e os gourmets não se impressionam com a presença do cão", eles me disseram.
Em outras palavras, todo o conceito de @cookingwithfatmax pode ter sido ruim desde o começo. Eu me senti humilhado.
Max, é claro, ainda é o grande vencedor de tudo isso – ele come a nossa comida. Próximo prato: peixe cozido no vapor.