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Suzana Amaral teve trajetória única no cinema brasileiro

Cineasta Suzana Amaral morreu nesta quinta-feira, aos 88 anos, e começou a trabalhar com a sétima arte quando já era avó, na década de 80

Suzana Amaral: cineasta dirigiu A Hora da Estrela, baseado na obra de Clarice Lispector (JF DIORIO/Estadão Conteúdo)

Suzana Amaral: cineasta dirigiu A Hora da Estrela, baseado na obra de Clarice Lispector (JF DIORIO/Estadão Conteúdo)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de junho de 2020 às 12h12.

Última atualização em 26 de junho de 2020 às 17h02.

Em 28 de março, ela completou 88 anos - nasceu em São Paulo, em 1932. Nesta quinta, 25, morreu Suzana Amaral. Sua trajetória talvez tenha sido única no cinema - mundial, não apenas brasileiro. Era mãe de nove filhos e até avó quando, no fim dos anos 1960, prestou vestibular para o curso de cinema da ECA/USP. Fez a pós-graduação na New York University.

De volta ao Brasil, integrou a equipe do extinto programa Câmera Aberta, da TV Cultura. Um de seus documentários para o programa foi premiado como melhor curta no Festival de Brasília, em 1979 - Minha Vida, Nossa Luta virou bandeira para as reivindicações de mulheres da periferia de São Paulo por creches.

Em 1986, levou seu primeiro longa à competição de Berlim, onde Marcélia Cartaxo foi melhor atriz. A Hora da Estrela é uma adaptação de Clarice Lispector. Conta a história de Macabéa, a imigrante nordestina que leva uma vida miserável na capital paulista, sonhando com um romance. Ele surge na figura de Olímpico/José Dumont, mas uma amiga dela, Tamara Taxman, se coloca no caminho, a partir de uma consulta à cartomante (Fernanda Montenegro).

É um filme rigoroso, austero e que, a exemplo da literatura de Clarice Lispector, viaja na interioridade de sua personagem. Suzana Amaral, como autora de ficção, foi principalmente uma adaptadora. Fez poucos filmes. Uma Vida em Segredo, de 2001, baseado em Autran Dourado, tem outra excepcional interpretação de Sabrina Greve. Em 2009, ela mudou o foco em outra adaptação - de João Gilberto Noll.

Hotel Atlântico é sobre esse homem aparentemente perdido (Júlio Andrade), que chega no hotel do título. Chega cansado, deita-se e dorme. Na sequência, envolve-se em situações estranhas, inclusive com dois jovens que querem matá-lo. Realidade ou imaginação? O filme não obteve tanta repercussão como os precedentes, mas manteve, por meio do protagonista masculino, a força interior característica da autora. Júlio também é excepcional no papel.

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