Soderbergh: "Muito do que eu costumava ver no cinema agora está na televisão, em termos de personagens, temáticas e narrativas", disse o diretor (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 5 de julho de 2012 às 20h44.
Los Angeles - O diretor de "Traffic: Ninguém Sai Limpo", "Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento" e a saga "Onze Homens e um Segredo", Steven Soderbergh, se afastará do cinema no final de 2012 para dar um novo rumo a sua vida, informou à Agência Efe em entrevista na qual falou do Oscar, seu futuro como pintor e do novo filme, "Magic Mike".
Soderbergh completará 50 anos em 14 de janeiro e, até lá, terá encerrado seus compromissos com a Sétima Arte. O diretor estreou em 1989 com "Sexo, Mentiras e Videotape", filme com o qual ganhou a Palma de Ouro de Veneza e uma nomeação aos prêmios da Academia de Hollywood, ainda com 26 anos.
"Em janeiro tudo tem que estar pronto e vou recomeçar minha vida", afirmou o diretor, que já tinha anunciado sua intenção de virar a página, só que agora concretizou a data.
"Isto é um plano de cinco anos que estabeleci quando estava filmando "Che" e tudo vai ocorrer de acordo com o que tenho programado", disse Soderbergh. O diretor insistiu que sua decisão foi pensada e motivada pela necessidade de "fazer algo mais".
O diretor de "Solaris" (2002) se mostrou entusiasmado pelo leque de projetos que tem em mente para os próximos cinco anos, entre os quais está escrever um livro de cinema, se dedicar ao teatro e, sobretudo, às artes plásticas.
"Em termos de pintura é como se tivesse 18 anos e acabasse de sair da escola. Tenho alguma habilidade, pois sei desenhar bem", disse Soderbergh. O cineasta reconheceu que tem que "trabalhar duro" com a técnica, embora espere compensar essa deficiência com sua experiência cinematográfica.
"Estive trabalhando em um meio visual toda a vida e tenho certas ideias que acho que posso trazer do cinema e que são incomuns na pintura em termos de composição e narrativa", destacou.
Sobre o plano, o cineasta garantiu que teve a compreensão de seus colegas de profissão, após contar seu desejo de recomeçar do zero. "As pessoas que fazem este trabalho sabem do quão intenso é tudo o que fiz nestes anos (quase 30 filmes em 23 anos", disse Soderbergh, bom amigo de Gary Ross e David Fincher.
O diretor ganhou um Oscar de direção por "Traffic: Ninguém Sai Limpo" em 2001, ano no qual foi candidato também nessa categoria por "Erin Brockovich". Em 1990, foi nomeado à estatueta de melhor roteiro original por "Sexo, Mentiras e Videotape". No entanto, Soderbergh reconheceu à Efe que "odiava" escrever roteiros, tarefa que abandonou com o tempo.
"Precisei de cinco ou seis filmes para me dar conta das minhas habilidades, que não era um roteirista, foram filmes que ninguém viu e que hoje em dia ninguém deixaria fazer", disse.
O artista ainda admitiu que teve "muita sorte" em sua carreira e que alcançou sua maturidade como diretor com " Irresistível Paixão", de 1998, com George Clooney e Jennifer López.
O momento atual de Soderbergh guarda certa semelhança com o do personagem protagonista de seu novo filme, "Magic Mike", que estreia na sexta-feira nos EUA.
Mike (Channing Tatum) é um dançarino popular de "striptease", cuja paixão está longe dos palcos que lhe deram fama, mulheres e dinheiro. No entanto, é um estilo de vida difícil de renunciar, até que a chegada de um novato ao negócio o faz refletir.
"Magic Mike" é um filme com muita nudez para os padrões americanos, inclusive com uma cena sobre aumento do tamanho do pênis. Da mesma forma, no longa, Tatum, Matthew Mcconaughey, Adam Rodríguez, Alex Pettyfer, Matt Bomer, Kevin Nash e Joe Manganiello mostram seus atributos físicos em repetidas cenas.
Soderbergh explicou que quis equilibrar sexualidade com humor com o intuito de que a trama fosse divertida. "Os atores tinham direito de veto, mas não me dissessem não a nada", disse o diretor, assinalando que nos EUA há um "raro conflito" sobre sexualidade.
Recentemente, Soderbergh terminou de filmar "The Bitter Pill" e seu último filme será "Liberace", que será exibido no canal de televisão (HBO), formato que lhe interessa se decidisse voltar a dirigir.
"Muito do que eu costumava ver no cinema agora está na televisão, em termos de personagens, temáticas e narrativas. É mais fácil me imaginar atualmente fazendo televisão do que voltando ao cinema", concluiu Soderbergh.