Diretora elege como heroína de sua história uma musa que Woody aprovaria: a bela e confusa Alice (Alice Taglioni) (Reprodução)
Da Redação
Publicado em 3 de janeiro de 2013 às 12h55.
São Paulo - Woody Allen, que nunca escondeu ter pedido a benção a seus mestres cinematográficos, como Ingmar Bergman, para construir sua obra, é, por sua vez, o homenageado da comédia romântica francesa "Paris-Manhattan", em que a diretora estreante Sophie Lellouche mostra-se uma humilde aprendiz do diretor norte-americano.
Sophie elege como heroína de sua história uma musa que Woody aprovaria: a bela e confusa Alice (Alice Taglioni). Loura, esbelta, pinta de modelo, ela é uma farmacêutica entrando nos 30 anos, inacreditavelmente sem sorte no amor.
Após cada desilusão, ela desabafa as mágoas para a enorme fotografia de Woody Allen que há anos emoldura sua parede. Em resposta, "ouve" dele conselhos, que na verdade são uma habilidosa montagem de falas do ator e diretor retiradas de diversos de seus filmes.
A própria ideia de falar com seu ídolo, aliás, vem da obra de Woody, mais especificamente de uma peça dele, que ele mesmo roteirizou no filme "Sonhos de um Sedutor" (1972), de Herbert Ross, em que Woody recebia conselhos do fantasma de Humphrey Bogart.
A ligação de Alice com o cineasta é tamanha que ela chega a receitar a visão de seus filmes a alguns de seus clientes. Até em casos extremos, como no dia em que um rapaz tenta assaltar sua farmácia, é dissuadido por ela e ainda leva para casa "Crimes e Pecados" e "Assassinato Misterioso em Manhattan".
Este último filme, aliás, merece uma homenagem à parte dentro do enredo, quando Alice, seus pais (Michel Aumont e Marie-Christine Adam) e um fã seu, Victor (Patrick Bruel), fuçam o apartamento de sua irmã (Marine Delterme) à procura de provas da suposta infidelidade de seu marido, Pierre (Louis-Do de Lancquesaing). Naquele filme de Woody, ele mesmo e a mulher (Diane Keaton) invadiam o apartamento de um vizinho, à procura de evidências de um crime.
O ponto alto de "Paris-Manhattan" certamente é o segmento em que o próprio Woody entra em cena, realizando aquele tipo de fantasia poética que eleva a história alguns patamares. É muito bem-filmada a sequência em que Alice, dentro de um vestido vermelho, pilota um patinete pelas ruas de Paris, tentando chegar a tempo de ver Woody. Ela foi chamada por Victor, que trabalha com alarmes e segurança e casualmente salvou o diretor de uma situação.
Certamente, trata-se de um trabalho de estreante, com não poucas hesitações e quebras de ritmo. Mas Sophie parece estar no caminho certo. Pelo menos, em termos de mestres e inspirações.