era de ultron (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 27 de abril de 2015 às 16h47.
Nos anos 1980, as histórias em quadrinhos passaram por uma espécie de amadurecimento. Histórias como O Cavaleiro das Trevas, A Queda de Murdock, Watchmen e A Piada Mortal marcaram a transição do gênero para a idade adulta, deixando os colantes coloridos e enredos ingênuos para trás. Entraram em cena histórias sombrias e personagens atormentados, cujos principais inimigos eram, muitas vezes, suas próprias consciências.
Os filmes e séries baseados em quadrinhos da Marvel passam por um fenômeno semelhante, trinta anos depois. Ao contrário dos filmes da concorrente DC, que sempre soaram adultos (e por vezes aborrecidos), a Marvel passou uma década apostando em histórias cheias de humor e ação inconsequente. Mas o final da segunda fase do chamado Universo Cinematográfico Marvel mostra que os próximos anos serão sombrios para os heróis da Casa das Ideias.
A transição começou no ano passado, com Capitão América 2: Soldado Invernal, um thriller político, cheio de discussões profundas, que talvez seja o filme mais adulto da Marvel. Há duas semanas, a estreia da violenta e realista série do Demolidor no Netflix mostra que o tom seguido será o mesmo na televisão. Mas a maior prova de que as coisas mudaram no universo de filmes da Marvel é Vingadores: Era de Ultron, que estreia nesta quinta (23) no Brasil.
Na continuação do filme de 2012, os Vingadores apanham, sofrem, choram, apanham mais um pouco, repensam sua vida, sentem medo, como nunca um herói sentiu nos filmes da Marvel. A diferença é marcante, ainda mais em comparação com o humor rasgado e a euforia tecnicolor do primeiro filme, quase um desenho animado.
Era de Ultron começa com o grupo de heróis no fictício país da Monróvia, onde precisam recuperar o cajado de Loki (uma das Joias do Infinito, a cola que une todos os filmes da Marvel) das mãos da Hydra. Durante a missão, Tony Stark tem uma premonição de um futuro sombrio dos Vingadores. O herói fica abalado a ponto de reativar um antigo projeto, o Programa Ultron, que faria o exército de robôs de Stark patrulhar o planeta, aposentando os Vingadores. As coisas começam a dar errado quando o recém-criado Ultron resolve levar ao extremo a ideia de paz mundial. Para ele, o que atrapalha a harmonia da Terra são seus próprios criadores.
Apesar do bom trabalho de dublagem do ator James Spader, o vilão Ultron é um dos grandes problemas do filme, na avaliação da INFO, que assistiu ao filme em uma sessão para jornalistas, a convite do estúdio. Cansativo, o robô tem como única motivação a mais batida de todas: destruir o mundo. Outros novos personagens, porém, funcionam muito bem: os irmãos geneticamente modificados Pietro e Wanda Maximoff (que por motivos de direitos autorais não podem ser chamados de Mercúrio e Feiticeira Escarlate) conseguem trazer profundidade emocional pouco vista nos filmes do estúdio, principalmente na interação da personagem de Elizabeth Olsen com os outros heróis do grupo.
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Infelizmente, o roteiro do filme parece servir apenas como suporte para as sequências de ação. Uma cidade africana é destruída apenas para que Hulk e o Homem de Ferro (em sua versão Hulkbuster) possam se estapear. O terço final do filme é ocupado por outra imensa batalha, novamente dizimando uma cidade inteira.
Nesses momentos, o filme lembra Homem de Aço, último e aborrecido filme do Super-Homem, no qual Metropolis é varrida do mapa. Vale dizer que Era de Ultron talvez seja um dos únicos filmes do gênero que mostra preocupação genuina em relação à vida das pessoas que vivem nessas cidades, um aspecto pouco visto em adaptações de quadrinhos.
Apesar de estar recheado de longas cenas de combate, os momentos em que o filme realmente nos empolgou foram aqueles nos quais os Vingadores questionam na sua condição de vigilantes do planeta: se eu estou ocupado salvando o mundo, quem pode me salvar? E qual o custo disso na minha vida pessoal? Esse esboço de conflito interno nos pareceu a melhor coisa de Era de Ultron, e sinal de um bom caminho que a Marvel pode tomar na terceira e mais adulta fase de seu universo cinematográfico.