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Sobreviventes de ataques com ácido viram heroínas em HQ

"O Espelho de Priya" é continuação da história de uma adolescente que é expulsa de casa após ser estuprada, mas que ganha poderes mágicos de uma deusa hindu

O Espelho de Priya: no quadrinho, Priya é uma vítima de estupro que se une a um grupo de sobreviventes de ataques com ácido para lutar contra um rei demônio (Divulgação)

O Espelho de Priya: no quadrinho, Priya é uma vítima de estupro que se une a um grupo de sobreviventes de ataques com ácido para lutar contra um rei demônio (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 4 de outubro de 2016 às 19h12.

Monica Singh tinha 18 anos quando negou o pedido de casamento de um amigo. Alguns dias depois, ela estava dirigindo seu carro em Lucknow, na Índia, quando um grupo de rapazes passou correndo e despejou ácido sobre seu corpo - 65% foi queimado, inclusive metade do rosto. Ela ficou desfigurada.

Atos violentos como esse são particularmente comuns na Índia: por ano, são mais de 300 ataques - as autoridades não têm certeza do número, porque, assim como acontece em casos de estupro, geralmente as mulheres têm medo ou vergonha de denunciar o agressor.

Mais de uma década depois da violência sofrida por Monica, a garota se tornou inspiração para algo incrível: uma história em quadrinhos em realidade aumentada sobre a violência de gênero na Índia.

Com o título de O Espelho de Priya, a HQ escrita por Ram Devineni e Paromita Vohra, e desenhada por Dan Goldman, combate a posição de inferioridade na qual as mulheres, especialmente as indianas, são postas na sociedade - um dos objetivos da publicação é acabar com ataques violentos como o sofrido por Monica.

No quadrinho, Priya é uma vítima de estupro que se une a um grupo de sobreviventes de ataques com ácido, lideradas por Anjali (inspirada em Monica) para lutar contra um rei demônio e cuspidor de ácido chamado Ahankar. A HQ, publicada em realidade aumentada, pode ser lida em qualquer dispositivo, inclusive pelo celular.

Monica Singh, que foi atacada com ácido, ao lado da personagem que inspirou, Anjali (Divulgação)

A história de Anjali, na verdade, é o segundo volume da saga de Priya. O primeiro volume, publicado em 2014, é a origem da própria Priya: a garota sobrevive a um estupro, mas é culpada pela violência e expulsa de casa pela própria família por ter "envergonhado os pais".

Obrigada a vagar sozinha, ela ganha poderes (e um tigre!) da deusa hindu Parvati e passa a combater estupradores na Índia. Assim como Monica inspirou o segundo livro de O Espelho, a história de Priya também tem uma base real: em 2012, uma mulher sofreu um estupro grupal em um ônibus em Delhi. O caso correu o mundo e despertou as discussões globais sobre a violência de gênero na Índia.

A narrativa, disponibilizada grátis (e em quatro línguas, inclusive em português) no site do projeto, combina o antigo e o novo: ao mesmo tempo em que é uma das primeiras HQs a usar a realidade aumentada, acaba contando a história usando alguns elementos das antigas lendas da mitologia Hindu, como os deuses e as cores fortes.

A HQ foi coproduzida pela fundação de Monica, a Mahendra Singh, e pela Fundação Natalia Ponce de Leon, colombiana - ambas voltadas para ajudar mulheres vítimas de ataques com ácido -, e já foi considerada pela ONU Mulheres como um campeão da igualdade de gênero.

Depois da repercussão, os autores receberam patrocínio do Banco Mundial - é a primeira vez que isso acontece com um quadrinho, aliás. O primeiro volume de O Espelho de Priya já tem mais de 500 mil downloads, e será implantado nos currículos escolares em Delhi no começo do ano que vem.

Veja o trailer da HQ:

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