Fachada do Botanique (Divulgação/Divulgação)
Daniel Salles
Publicado em 7 de novembro de 2020 às 06h20.
Última atualização em 7 de novembro de 2020 às 10h32.
Em janeiro, o Hotel Botanique, de Campos de Jordão, passa a funcionar sob a bandeira Six Senses, o grupo hoteleiro internacional que melhor representa a crescente tendência de reunir luxo, sustentabilidade e bem-estar. Será o primeiro Six Senses das Américas (em 2021 deve abrir outro em Nova York). A fusão dos dois negócios foi tão repentina que não chegou ao conhecimento da imprensa internacional especializada. Em uma reportagem de 2 de novembro, por exemplo, o site da revista Luxury Travel Advisor lista 5 novos hotéis que o grupo Six Senses Hotels Resorts Spas deve começar a operar num futuro próximo. O Botanique não está entre eles.
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O acordo foi fechado numa velocidade recorde porque tudo conspirou a favor. “A filosofia do Botanique é muito parecida com a do Six Senses”, diz Fernanda Semler fundadora do hotel da Serra da Mantiqueira. Logo que foi inaugurado em 2012, com sua arquitetura ampla, suas poucas suites e vilas, suas obras de arte, seus móveis de design brasileiro, sua cozinha elaborada e original, o Botanique chamou a atenção pelo preço das diárias (na época tidas como as mais altas do Brasil) mas também por trazer um luxo muito diferente do que se conhecia: um luxo discreto e elegante, que Fernanda classificou como Pós-Luxo. “Sempre foi um projeto com um propósito”, diz Fernanda.
Não degradar o ambiente, investir em qualidade, valorizar os produtos locais e apostar em artistas e designers nacionais foram as linhas que conduziram o trabalho de Fernanda e sua equipe desde o início, além do compromisso de oferecer uma experiência voltada para o conforto e prazer pessoal e, não, para a ostentação. Esse mesmo tipo de cuidado está presente também em cada um dos 16 hotéis e resorts que o Six Senses opera pelo mundo.”São pontos que eles têm de desenvolver sempre que começam a administrar um empreendimento”, diz Fernanda “Aqui estava pronto. Foi tudo muito redondo”.
A empresária conta que foi procurada pelo grupo em dezembro de 2019 após uma amiga comum ter comentado sobre o Botanique com Neil Jacobs, o CEO do Six Senses Hotels Resorts Spas. Na época, Fernanda já estava pensando em passar para frente a gestão do hotel e se dedicar ao trabalho de curadoria, consultoria e certificação do portal Aprés Luxe (https://www.apresluxe.com.br/), pois em 2021 pretende se mudar para San Diego com o marido, o empresário Ricardo Semler, e os filhos. Mas não queria deixar o hotel na mão de um grupo administrador, queria uma empresa que investisse no negócio.
Perto do natal de 2019, Jacobs veio conhecer o Botanique e considerou que o investimento valia a pena. “Na maior parte dos hotéis, eles são apenas administradores”, conta Fernanda. “Mas aceitaram investir no Botanique justamente pela compatibilidade. Foi muito gratificante ver o meu trabalho reconhecido. Juntos, vamos fazer um aporte de R$ 25 milhões no negócio. Eu continuo com 80% das cotas, mas saio da administração”.
Jacobs diz que foi paixão à primeira vista. “Em francês chamam de ‘coup de foudre’ ”, diz ele. “Um raio. Subindo a rampa (que leva ao hotel) ficou imediatamente óbvio. Aqui estava uma propriedade que foi construída e alimentada com os mesmos valores que existem no Six Senses. Nunca acontece assim quando olhamos para hotéis construídos, mas no Botanique a energia estava certa, a intenção de Fernanda Semler estava tão alinhada com a nossa e a beleza da propriedade e do ambiente ressoou profundamente. Quis logo nos associar aos edifícios, ao espírito e à energia do meio ambiente e às pessoas da região. Foi instantâneo”.
Em 2017, o grupo havia anunciado o lançamento de um projeto em Baía Formosa, no litoral do Rio Grande do Norte, que incluiria um resort e residências. Nesse projeto, no entanto, eles não seriam sócios. Até hoje, no entanto, o proprietário ainda não conseguiu os investimentos necessários. Então, o projeto está temporariamente suspenso. A ideia do grupo é se expandir pelo Brasil. “Acho que podemos criar um circuito atraente de pequenos hotéis maravilhosos em todo o país, em 5 a 10 anos”, diz Jacobs. “O Botanique e a Mantiqueira foram um ótimo lugar para começar. Já era uma propriedade extraordinária em uma ótima localização, uma parte especial a poucas horas de carro das duas maiores grandes cidades do Brasil”.
Além disso, Jacobs diz ter se apaixonado pela Serra da Mantiqueira. A região já vem atraindo um viajante mais sofisticado, que chega em busca de paz, boa comida e boa bebida, de preferência, ambas de produção local. O turismo enogastronômico é um forte ponto de interesse na região, que possui produtores tradicionais de queijos, doces, cachaças e, nos últimos anos, reuniu também um bom grupo de novatos - vindos na maior parte das vezes das grandes cidades para fazer vinhos, azeites, queijos especiais, salumeria e outros itens “charmosos”.
O trabalho de sustentabilidade do hotel foi um dos principais atrativos para o Six Senses. “Nascemos há 25 anos com foco na sustentabilidade antes que qualquer pessoa falasse em sustentabilidade”, diz Jacobs. “Estava e está em nosso DNA. Faz parte de todas as decisões que tomamos. O mesmo com o bem-estar. Muitas empresas hoteleiras oferecem ótimos spas, mas o spa é apenas um elemento do bem-estar. Nossa programação é profunda e ampla e abrange todos os aspectos do que contribui para uma vida saudável”.
O setor de comidas e bebidas também é bastante ligado ao de bem-estar. O grupo investe numa gastronomia saudável focada em alimentos orgânicos, ingredientes da estação e produzidos nos arredores de seus hotéis, sempre por chefs renomados. Nessa área também, o Botanique já estava alinhado com o Six Senses. O chef Gabriel Broide, que está desde o começo do projeto, trabalha com comida da região e, até, alguns de foraging, extraídos das matas locais. O Botanique fica afastado da cidade de Campos de Jordão, numa região bastante mais rural, na região que Fernanda chama de Triângulo das Serras, entre Campos, São Bento do Sapucaí e Santo Antônio do Pinhal, todas em São Paulo, mas bem próximas de Minas Gerais. Gabriel permanece, mas deve haver uma programação de chefs visitantes.
Quando Fernanda e Jacobs se falaram da primeira vez, a ideia era começar o processo de transição em março de 2019. Mas veio a pandemia e tudo ficou parado. Porém, assim que foi possível, as equipes do grupo internacional chegaram e começaram a estudar o que teria de ser feito.
Eles devem construir mais 16 vilas, subindo o número de acomodações de 18 para 34. Também vão investir na venda e administração de 175 casas de veraneio dentro do terreno de 8 hectares (um projeto que o Botanique já tinha lançado e que está com fila de espera). Fernanda acredita que isso não irá tirar o ar de exclusividade e isolamento do hotel, pois, cercando o terreno, está a sua fazenda de 120 hectares, com muita mata preservada. Para atender a um número maior de hóspedes, as áreas comuns também devem ser ampliadas. A primeira delas será no spa, que deve dobrar. Será construída também uma nova academia.
“Vamos incrementar os processos de sustentabilidade”, diz o americano Dominic Scoles, que acaba de chegar para assumir o posto de gerente geral do Six Senses Botanique. “Mas eles já faziam um ótimo trabalho, com o tratamento da água e resíduos, por exemplos. Devemos reduzir ainda mais o uso de plástico, investir ainda mais na produção de orgânicos para nossos restaurantes e nosso spa. A principal e mais evidente mudança, no entanto, será na área de bem-estar. Virão terapeutas internacionais treinar a equipe local.” Scoles disse também que tratamentos com ingredientes da mantiqueira e do resto do Brasil estão sendo desenvolvidos.
Uma das atrações dos spas Six Senses é o Alchemy Bar, onde o clientes assistem à criação de muitas misturas que serão usadas no seu tratamento e, até, aprendem a preparar combinar ervas, sais, frutas e vários ingredientes exóticos para fazer esfoliantes aromáticos, máscaras, banhos. Também na área de bem estar, o Earth Lab é outro sucesso. Trata-se de uma área dedicada a colocar os hóspedes em contato com todo o trabalho social e de sustentabilidade que cada hotel faça.
”O trabalho social é uma área que me entusiasma muito”, diz Scoles, que é formado em economia e ciências sociais. “Adoro ter contato com os pequenos produtores e artesãos. Já visitei algumas fazendas aqui no entorno. Tem coisas fantásticas. Tenho certeza que conseguimos propiciar experiências bastante especiais para nossos hóspedes.”