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Site promove compositoras para redescobrir "casamento musical"

Base de dados gratuita lançada em junho repercute 4.662 obras de 770 compositoras, de 1618 a 2020

A compositora Kaija Saariaho durante um ensaio de sua ópera "Emilie" no teatro da Ópera de Lyon, França (af/AFP)

A compositora Kaija Saariaho durante um ensaio de sua ópera "Emilie" no teatro da Ópera de Lyon, França (af/AFP)

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AFP

Publicado em 3 de agosto de 2020 às 13h58.

Última atualização em 3 de agosto de 2020 às 14h24.

De Francesca Caccini no século 17 à Camille Pépin no 21. Uma plataforma digital repercutiu as obras de mais de 700 compositoras para redescobrir artistas que estão sumidas há muito tempo. Apelidada de Demandez à Clara ("Pergunte à Clara"), em referência a Clara Schumann — brilhante pianista, compositora e esposa do famoso compositor — esta base de dados gratuita foi lançada em junho por uma equipe liderada por Claire Bodin, diretora do festival "Presenças femininas", dedicado às compositoras do passado e do presente.

"Desde a infância, não ouvimos música de compositoras, ou ouvimos em tão poucas ocasiões que nem lembramos", disse Bodin à AFP.

"Nenhum 'casamento' foi transmitido por nossos músicos e músicas; aceitamos a ideia da genialidade do grande compositor, sempre um homem, sem nunca perguntar pelo repertório das compositoras", explica.

Esta ferramenta, financiada pela Associação de Autores, Compositores e Editores de Música (Sacem), repercutiu 4.662 obras de 770 compositoras de 60 nacionalidades, de 1618 a 2020.

A página planeja acrescentar mais 4.000 obras neste outono (boreal), entre elas as de Hildegarde de Bingen (1098-1179), santa da Igreja católica e uma das primeiras compositoras conhecidas.

Enriquecer e não reescrever

Um projeto de pesquisa de longo prazo que começou em 2006 e ainda não foi realizado porque "é uma questão de moda."

"Não se trata de reescrever a história, mas de enriquecer o repertório", explica Bodin. "Não se trata de programá-las simplesmente porque são mulheres e para ter a consciência limpa, mas porque há um interesse artístico autêntico."

Para esta cravista que abandonou sua carreira para se dedicar a esses projetos, a não programação de compositoras continua sendo um grande obstáculo para a divulgação de suas obras.

Há uma década, ela oferece regularmente conferências sobre este assunto e são poucas as pessoas na plateia que conseguem dar outros nomes além dos "top 5" das compositoras, como Clara Schumann, Fanny Mendelssohn, Lili Boulanger ou as contemporâneas Betsy Jolas y Kaija Saariaho.

"Só se vê a ponta do iceberg, mas mesmo entre os homens há vários compositores que mereciam ser destacados", lembra Bodin. Previsto para março, o festival "Presenças femininas" foi adiado para 12 e 20 de outubro. Desde sua criação, produziu sete obras de compositoras, entre elas uma da jovem Camille Pépin (29 anos), que se tornou neste ano a primeira compositora premiada nas "Vitórias da música clássica".

Entrevistada pela AFP em 2019, Camille Pépin contou que era a única menina nos cursos de composição do Conservatório de Paris. "Mas hoje os professores que encontro e os jovens músicos querem que isso mude. Há preconceitos que resistem, mas estão começando a cair."

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