Gucci: modelagem ampla, mas sem exagero de estampas. (Divulgação/Divulgação)
Editor de Casual e Especiais
Publicado em 23 de fevereiro de 2023 às 14h49.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2023 às 15h14.
A mistura de streetwear com moda de luxo começou em 2000, quando o estilista americano Marc Jacobs cometeu a heresia de mexer no logotipo de uma maison centenária francesa, a Louis Vuitton, com a colaboração do artista nova-iorquino Stephen Sprouse. De lá para cá, as passarelas assistiram a uma profusão de peças usadas nas ruas, de calças jogging a tênis com solado altíssimo, misturadas à alfaiataria clássica. Pode-se dizer, no entanto, que esta temporada de moda masculina marcou a volta de uma moda mais simples, com aposta nos clássicos da alfaiataria.
Esse movimento já vinha acontecendo havia algumas temporadas, mas se consolidou agora. O maior símbolo dessa transformação atual é a Gucci. Nos sete anos em que o italiano Alessandro Michele esteve no comando criativo, a grife exibiu referências aos anos 1970 com sobreposições, estampas e cores em exagero. Em janeiro deste ano a Gucci voltou a desfilar na Semana de Moda Masculina de Milão, depois de algumas temporadas fazendo apresentações únicas na temporada feminina. Era definitivamente outra marca.
O tema da coleção da Gucci foi “Improviso como Metodologia”, o que pode ser entendido como uma referência à produção feita pelo time interno — o novo diretor criativo, Sabato De Sarno, foi anunciado dias depois do desfile. Os modelos usaram sobretudos largos, calças amplas e camisas de seda, uma alfaiataria mais clássica apesar da modelagem grande. Ainda houve saias, calças rasgadas e cores mais chamativas aqui e ali, apenas como elemento de atenção.
A Dolce & Gabbana voltou para os seus itens essenciais, como paletós e calças de corte impecável, casacos de abotoamento duplo e gravatas slim nas cores preta, cinza e branca, depois de anos de excessos. A Prada também deixou clara sua proposta. A apresentação teve o nome Let’s Talk About Clothes, ou “Vamos Falar de Roupas”. Os costumes e jaquetas levemente folgados em tons sóbrios eram quebrados pelo uso sobre a pele, muito mais um efeito visual para as passarelas do que uma sugestão de uso para as ruas. A Zegna, uma grife que sempre se ateve mais aos clássicos, reforçou a qualidade de materiais como o cashmere em uma alfaiataria impecável como sempre.
Uma das exceções que confirmam a regra foi a Louis Vuitton, sem diretor criativo desde a morte de Virgil Abloh, em novembro de 2021. A grife apresentou na Semana de Moda de Paris uma coleção festiva e colorida, embalada por um show da cantora Rosalía, com a colaboração do diretor criativo convidado Colm Dillane, dono da marca de streetwear KidSuper.
As peças apresentadas parecem feitas para repercutir nas redes sociais, mas mesmo a estratégia da lacração não é mais unanimidade entre as marcas. A Bottega Veneta deletou sua conta de Instagram, e mesmo o novo diretor de criação da Gucci tem o perfil fechado. No fim do ano passado a Balenciaga foi cancelada depois das polêmicas com seu modelo de tênis destruído e uma infeliz campanha com insinuações a assédio sexual.
A pandemia trouxe de volta a casualização da moda. As marcas têm investido em silhuetas confortáveis e materiais tecnológicos, elementos presentes nas coleções apresentadas em janeiro. A volta dos básicos talvez se explique também pelo declínio das vendas para consumidores chineses, apreciadores dessa moda mais exuberante e ainda em isolamento por política do governo. Para ficar em um exemplo, a Burberry registrou queda de 35% nas vendas na China no ano passado devido ao fechamento das lojas e às restrições de viagens. Dessa forma, as marcas voltam-se novamente para os mercados europeus. Para quem aprecia uma moda simplesmente bem-feita, nada como ter as boas e velhas peças de volta.