Irreversível, a tendência de migrar filmes para séries de TV deve se acentuar, no que depender dos realizadores e dos produtores (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 4 de julho de 2011 às 11h31.
São Paulo - A relação entre cinema e televisão nunca foi tão despudorada quanto a que se experimenta agora, em que histórias migram de um meio para o outro, já adiantadas no caminho para o sucesso. Foi assim com "A Mulher Invisível", série adaptada do longa-metragem de 2009, na primeira parceria entre a Globo e a Conspiração Filmes. Com cinco episódios, a primeira temporada termina amanhã em alta e com a possibilidade de uma volta em breve. "O último capítulo é sensacional, encerra com um gosto de quero mais. Acho que existe um desejo por parte de todos que exista uma segunda temporada", admite diretor Cláudio Torres, que dividiu o trabalho com Carolina Jabor e Selton Mello.
Não é de hoje que peças de teatro se transformam em cinema e televisão (como "O Auto da Compadecida", de 2000) ou seriados viram longa-metragem (como "Os Normais", de 2003). Mas, verdadeiro especialista em adaptações transversais, o diretor Guel Arraes avalia que entre todos os modelos que vêm usados na última década, o de "Chico Xavier" e o de "A Mulher Invisível" são os mais bem-sucedidos. No primeiro caso, o diretor Daniel Filho filmou de uma só vez um longa e uma série de cinco episódios para a TV. No segundo, cinco histórias originais foram criadas a partir do longa. "Fora aproveitar a estrutura de produção, o modelo usado pelo Daniel cria uma sobrevida para obra na TV além da que ela teria se apenas o filme fosse ao ar, num dia apenas", observa.
Entusiasmado com o sucesso do seu "Divã", que migrou do teatro para o cinema, e dali se transformou numa série de oito episódios, José Alvarenga Jr. só vê vantagens em projetos desse tipo. Mas um aspecto é bastante interessante: "Hoje você tem uma oferta muito grande de consumo de entretenimento, as estreias de blockbusters, por exemplo, são semanais. E ainda tem a internet e uns 200 canais a cabo oferecendo consumo visual", enumera. "Então, quando você viu uma coisa boa que te pegou e ela aparece em outra mídia, a visibilidade é instantânea."
Além disso, o ar cinematográfico na TV - tanto "Divã" quanto "A Mulher Invisível" usaram câmeras de cinema - é outro ponto forte. "A realidade do cinema e da televisão mudou muito nos últimos anos. Hoje se diz por exemplo que, nos Estados Unidos, a televisão está melhor que o cinema", observa o autor Marcílio Moraes, que acaba de concluir o roteiro do longa baseado em "A Lei e o Crime", série policial que ele escreveu para a Record. As filmagens começam em outubro, com direção de Alexandre Avancini. "Há um ponto que vejo como negativo no Brasil: quando simplesmente se transporta um programa de sucesso na televisão para o cinema com a mesma linguagem, é ruim para o cinema."
Irreversível, a tendência só deve se acentuar, no que depender dos realizadores. Daniel Filho, por exemplo, se prepara para filmar o longa de "Confissões de Adolescente", a série adorável que ele dirigiu para a TV Cultura em 1994. "Xingu", produção da O2 dirigida por Cao Hamburger, sobre a vida dos irmãos sertanistas Villas-Boas, acaba de ser montado como longa e, é certo, vai ao ar como uma série na Globo no ano que vem. E, animado com A Mulher Invisível, Cláudio Torres se mostra empolgado quando ouve a sugestão de que O Homem do Futuro, filme que ele lança em setembro, bem que poderia render uma série. "Quem vai determinar isso é o publico, e se ele gostar, pode haver futuro para O Homem do Futuro", adianta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.